O Mundo Perdido - Cap. 17: Capítulo 17 Pág. 282 / 286

O único outro testemunho a que posso aludir é retirado do diário de bordo do vapor Friesland, um paquete da linha Holanda-América, que relatou que na manhã do dia seguinte às nove horas o navio fora ultrapassado por um animal de um tipo indeterminado mas intermédio entre um veado voador e um morcego monstruoso, o qual se dirigia a uma velocidade prodigiosa para sudoeste. Se, realmente, o seu instinto não o enganou, o último pterodáctilo europeu encontrou a morte algures nos espaços que ficam por cima do Atlântico.

E Gladys? Oh, minha Gladys! Gladys do lago misterioso... Lago que continuará a chamar-se Lago Central, porque não será por mim que Gladys alcançará a imortalidade... Eu não avisei sempre que ela tinha uma fibra de dureza? Não senti eu, mesmo na época em que me orgulhava de obedecer às suas ordens, que só um pobre amor podia conduzir assim o apaixonado à morte ou a todos os perigos da morte? Então eu não havia discernido no fundo de mim mesmo as sombras gémeas do egoísmo e da inconstância que se destacavam sobre a perfeição do rosto? Ela amava o heróico e o espectacular por SI próprios ou então gostava deles pela glória que podia, sem esforço de sacrifício, reflectir-se sobre a sua pessoa? .. A menos que estes pensamentos sejam o efeito da vã prudência que se declara após o acontecimento!

Foi o choque da minha vida. Durante algum tempo tornei-me um verdadeiro cínico Mas já, quando escrevo, passou uma semana, tivemos a nossa conversa capital com Lord Jonh Roxton, e... afinal de contas, as coisas teriam podido ser piores.

Permitam-me que lhes conte em poucas palavras. Nenhuma carta, nenhum telegrama, me aguardava em Southampton. Cheguei à pequena vivenda de Streatham cerca das dez da noite, febrilmente inquieto. Ela estaria morta ou viva?