Cândido - Cap. 15: CAPÍTULO XV - Como Cândido matou o irmão da sua querida Cunegundes Pág. 47 / 118

CAPÍTULO XV - Como Cândido matou o irmão da sua querida Cunegundes

- Terei toda a vida presente na memória o dia horrível em que vi matar meu pai e minha mãe e violar minha irmã. Quando os Búlgaros se retiraram, não se conseguiu encontrar a minha adorável irmã. Numa carroça, carregaram minha mãe, meu pai, a mim, dois criados e três rapazitos que tinham sido esfaqueados, a fim de nos enterrarem numa capela dos jesuítas, a duas léguas do castelo de meus pais. Um jesuíta aspergiu-nos com água benta, extraordinariamente salgada. Algumas gotas penetraram nos meus olhos. O padre notou que as minhas pálpebras se mexiam um pouco, pôs-me a mão sobre o coração e sentiu-o palpitar. Socorreram-me, e ao fim de três semanas estava totalmente restabelecido.

«Sabeis, meu querido Cândido, como eu era formoso; pois ainda me tornei mais belo. Por isso, o reverendo padre Croust, superior da casa, encheu-se da mais terna afeição por mim: deu-me o hábito de noviço; e algum tempo depois fui enviado para Roma. O geral da Companhia precisou de recrutar jovens jesuítas alemães. Os soberanos do Paraguai evitam receber jesuítas espanhóis, preferindo-lhes os estrangeiros, de cuja obediência se julgam senhores. Pelo reverendo padre geral fui julgado apto para vir trabalhar nesta vinha. Parti, em companhia de um polaco e de um tirolês. Fui honrado, ao chegar, com o subdiaconado e a patente de tenente. Hoje sou coronel e presbítero. Resistimos vigorosamente às tropas do rei de Espanha. Asseguro-vos que elas serão excomungadas e vencidas. A Providência envia-vos para nos auxiliar. Mas é certo que a minha querida irmã Cunegundes está perto de nós, em casa do governador de Buenos Aires?

Cândido assegurou-lhe sob juramento que nada era mais verdadeiro.





Os capítulos deste livro

CAPÍTULO I - Como Cândido foi educado num belo castelo e porque dele foi expulso 1 CAPÍTULO II - O que aconteceu a Cândido entre os Búlgaros 4 CAPÍTULO III - Como Cândido se livrou dos Búlgaros e o que lhe aconteceu 7 CAPÍTULO IV - Como Cândido encontrou o seu antigo mestre de filosofia, o Dr. Pangloss, e o que lhe aconteceu 10 CAPÍTULO V - Tempestade, naufrágio, tremor de terra, e o que aconteceu ao Dr. Pangloss, a Cândido e ao anabaptista Tiago 14 CAPÍTULO VI - Como se fez um belo auto-de-fé para impedir os tremores de terra e como Cândido foi açoitado 18 CAPÍTULO VII - Como uma velha cuidou de Cândido e ele encontrou aquela que amava 20 CAPÍTULO VIII - História de Cunegundes 23 CAPÍTULO IX - O que aconteceu a Cunegundes, a Cândido, ao inquisidor-mor e ao judeu 27 CAPÍTULO X - Em que angústia Cândido, Cunegundes e a velha chegam a Cádis e como embarcaram 29 CAPÍTULO XI - História da velha 32 CAPÍTULO XII - Continuação da história das desgraças da velha 36 CAPÍTULO XIII - Como Cândido foi obrigado a separar-se da bela Cunegundes e da velha 40 CAPÍTULO XIV - Como Cândido e Cacambo foram recebidos entre os jesuítas do Paraguai 43 CAPÍTULO XV - Como Cândido matou o irmão da sua querida Cunegundes 47 CAPÍTULO XVI - O que aconteceu aos dois viajantes com duas raparigas, dois macacos e os selvagens chamados Orelhões 50 CAPÍTULO XVII - Chegada de Cândido e do seu criado ao país do Eldorado e o que aí Viram 54 CAPÍTULO XVIII - O que viram no país do Eldorado 58 CAPÍTULO XIX - O que lhes aconteceu em Suriname e como Cândido conheceu Martin 64 CAPÍTULO XX - O que aconteceu no mar a Cândido e a Martin 70 CAPÍTULO XXI - Cândido e Martin aproximam-se das costas de França e filosofam 73 CAPÍTULO XXII - O que aconteceu em França a Cândido e a Martin 75 CAPÍTULO XXIII - Cândido e Martin dirigem-se para as costas de Inglaterra e o que por lá vêem 87 CAPÍTULO XXIV - De Paquette e do Irmão Giroflée 89 CAPÍTULO XXV - Visita ao Sr. Pococuranté, nobre veneziano 94 CAPÍTULO XXVI - De uma ceia que Cândido e Martin tiveram com seis estrangeiros e quem eles eram 100 CAPÍTULO XXVII - Viagem de Cândido para Constantinopla 104 CAPÍTULO XXVIII - O que aconteceu a Cândido, Cunegundes, Pangloss, Martin, etc. 108 CAPÍTULO XXIX - Como Cândido reencontrou Cunegundes e a velha 111 CAPÍTULO XXX – Conclusão 113