Cândido - Cap. 18: CAPÍTULO XVIII - O que viram no país do Eldorado Pág. 60 / 118

Cândido permanecia em êxtase e dizia para consigo, ao ouvir estas palavras: «Isto aqui é bem diferente da Vestefália e do castelo do Sr. Barão. Se o nosso amigo Pangloss tivesse visto o Eldorado, não diria mais que o castelo de Thunder-ten-tronckh era o que havia de melhor na Terra. É um facto indiscutível que é preciso viajar-se.»

Depois desta longa conversação, o bom velho fez atrelar a um carro seis carneiros e mandou que doze dos seus criados acompanhassem os dois viajantes à corte.

- Perdoai-me - disse-lhes - se a idade me priva da honra de vos acompanhar. O rei receber-vos-á de maneira que vos há-de agradar, e desculpareis certamente alguns dos usos do nosso país que vos não satisfaçam.

Cândido e Cacambo subiram para o carro e os seis carneiros correram, como se voassem, e em menos de quatro horas chegaram ao palácio do rei, situado num dos extremos da capital. A fachada tinha cento e vinte cinco pés de altura por cem de largura e é impossível descrever a matéria em que fora edificado. Calcule-se a superioridade prodigiosa que devia ter sobre os calhaus e a areia a que chamamos ouro e pedrarias.

Vinte lindas raparigas da guarda receberam Cândido e Cacambo ao descerem da carruagem, conduziram-nos ao balneário e vestiram-lhes depois fatos feitos de um tecido de penugem de colibri. Em seguida, os grandes oficiais e as damas da corte levaram-nos aos aposentos de Sua Majestade, no meio de duas filas de mil músicos cada uma, como era uso.

Quando se aproximavam da sala do trono, Cacambo perguntou a um oficial como deviam proceder ao saudar Sua Majestade: se deviam pôr-se de joelhos ou prostrar-se no chão, se haviam de pôr as mãos na cabeça ou no rabo, se deveriam lamber a poeira da sala; numa palavra, como era a cerimónia.





Os capítulos deste livro

CAPÍTULO I - Como Cândido foi educado num belo castelo e porque dele foi expulso 1 CAPÍTULO II - O que aconteceu a Cândido entre os Búlgaros 4 CAPÍTULO III - Como Cândido se livrou dos Búlgaros e o que lhe aconteceu 7 CAPÍTULO IV - Como Cândido encontrou o seu antigo mestre de filosofia, o Dr. Pangloss, e o que lhe aconteceu 10 CAPÍTULO V - Tempestade, naufrágio, tremor de terra, e o que aconteceu ao Dr. Pangloss, a Cândido e ao anabaptista Tiago 14 CAPÍTULO VI - Como se fez um belo auto-de-fé para impedir os tremores de terra e como Cândido foi açoitado 18 CAPÍTULO VII - Como uma velha cuidou de Cândido e ele encontrou aquela que amava 20 CAPÍTULO VIII - História de Cunegundes 23 CAPÍTULO IX - O que aconteceu a Cunegundes, a Cândido, ao inquisidor-mor e ao judeu 27 CAPÍTULO X - Em que angústia Cândido, Cunegundes e a velha chegam a Cádis e como embarcaram 29 CAPÍTULO XI - História da velha 32 CAPÍTULO XII - Continuação da história das desgraças da velha 36 CAPÍTULO XIII - Como Cândido foi obrigado a separar-se da bela Cunegundes e da velha 40 CAPÍTULO XIV - Como Cândido e Cacambo foram recebidos entre os jesuítas do Paraguai 43 CAPÍTULO XV - Como Cândido matou o irmão da sua querida Cunegundes 47 CAPÍTULO XVI - O que aconteceu aos dois viajantes com duas raparigas, dois macacos e os selvagens chamados Orelhões 50 CAPÍTULO XVII - Chegada de Cândido e do seu criado ao país do Eldorado e o que aí Viram 54 CAPÍTULO XVIII - O que viram no país do Eldorado 58 CAPÍTULO XIX - O que lhes aconteceu em Suriname e como Cândido conheceu Martin 64 CAPÍTULO XX - O que aconteceu no mar a Cândido e a Martin 70 CAPÍTULO XXI - Cândido e Martin aproximam-se das costas de França e filosofam 73 CAPÍTULO XXII - O que aconteceu em França a Cândido e a Martin 75 CAPÍTULO XXIII - Cândido e Martin dirigem-se para as costas de Inglaterra e o que por lá vêem 87 CAPÍTULO XXIV - De Paquette e do Irmão Giroflée 89 CAPÍTULO XXV - Visita ao Sr. Pococuranté, nobre veneziano 94 CAPÍTULO XXVI - De uma ceia que Cândido e Martin tiveram com seis estrangeiros e quem eles eram 100 CAPÍTULO XXVII - Viagem de Cândido para Constantinopla 104 CAPÍTULO XXVIII - O que aconteceu a Cândido, Cunegundes, Pangloss, Martin, etc. 108 CAPÍTULO XXIX - Como Cândido reencontrou Cunegundes e a velha 111 CAPÍTULO XXX – Conclusão 113