Cândido - Cap. 19: CAPÍTULO XIX - O que lhes aconteceu em Suriname e como Cândido conheceu Martin Pág. 64 / 118

CAPÍTULO XIX - O que lhes aconteceu em Suriname e como Cândido conheceu Martin

O primeiro dia de viagem foi bastante agradável. Animava-os a ideia de serem donos de mais tesouros que a Ásia, a Europa e a África juntas. Cândido, cheio de emoção, escreveu nas árvores o nome de Cunegundes.

No segundo dia de viagem, dois dos carneiros afogaram-se nos pântanos e ficaram atolados neles com as cargas que levavam. Dois outros carneiros morreram de fadiga alguns dias depois, sete ou oito morreram à fome no deserto e outros, dias passados, despenharam-se nos precipícios.

Por fim, após cem dias de marcha, só lhes restavam dois carneiros. Cândido disse a Cacambo:

- Meu amigo, vede como são transitórias as riquezas deste mundo. Só é sólida a virtude e a felicidade de voltar a ver a menina Cunegundes.

- Concordo - disse Cacambo -, mas restam-nos ainda dois carneiros, em que levamos tesouros superiores aos que jamais o rei de Espanha possuirá. Vejo ao longe uma cidade que deve ser Suriname e que pertence aos Holandeses. Chegámos ao fim dos nossos sofrimentos e ao início da nossa felicidade.

Ao aproximarem-se da cidade, encontraram um negro estendido por terra, tendo apenas metade do vestuário, isto é, umas ceroulas de fazenda azul. Faltava a este desgraçado a mão direita e a perna esquerda.

- Oh, meu Deus! - exclamou Cândido em holandês. Que fazes tu aí, no estado horrível em que te vejo?

- Espero o meu amo, o Sr. Vanderdendur, o conhecido negociante.

- Foi o Sr. Vanderdendur que te tratou assim? - perguntou Cândido.

- Sim, senhor - retorquiu o negro -, é o costume. Como vestuário, dão-nos por ano, ao todo dois pares de ceroulas de pano. Se trabalhamos nos engenhos de açúcar e a mó nos apanha um dedo, cortam-nos a mão.





Os capítulos deste livro

CAPÍTULO I - Como Cândido foi educado num belo castelo e porque dele foi expulso 1 CAPÍTULO II - O que aconteceu a Cândido entre os Búlgaros 4 CAPÍTULO III - Como Cândido se livrou dos Búlgaros e o que lhe aconteceu 7 CAPÍTULO IV - Como Cândido encontrou o seu antigo mestre de filosofia, o Dr. Pangloss, e o que lhe aconteceu 10 CAPÍTULO V - Tempestade, naufrágio, tremor de terra, e o que aconteceu ao Dr. Pangloss, a Cândido e ao anabaptista Tiago 14 CAPÍTULO VI - Como se fez um belo auto-de-fé para impedir os tremores de terra e como Cândido foi açoitado 18 CAPÍTULO VII - Como uma velha cuidou de Cândido e ele encontrou aquela que amava 20 CAPÍTULO VIII - História de Cunegundes 23 CAPÍTULO IX - O que aconteceu a Cunegundes, a Cândido, ao inquisidor-mor e ao judeu 27 CAPÍTULO X - Em que angústia Cândido, Cunegundes e a velha chegam a Cádis e como embarcaram 29 CAPÍTULO XI - História da velha 32 CAPÍTULO XII - Continuação da história das desgraças da velha 36 CAPÍTULO XIII - Como Cândido foi obrigado a separar-se da bela Cunegundes e da velha 40 CAPÍTULO XIV - Como Cândido e Cacambo foram recebidos entre os jesuítas do Paraguai 43 CAPÍTULO XV - Como Cândido matou o irmão da sua querida Cunegundes 47 CAPÍTULO XVI - O que aconteceu aos dois viajantes com duas raparigas, dois macacos e os selvagens chamados Orelhões 50 CAPÍTULO XVII - Chegada de Cândido e do seu criado ao país do Eldorado e o que aí Viram 54 CAPÍTULO XVIII - O que viram no país do Eldorado 58 CAPÍTULO XIX - O que lhes aconteceu em Suriname e como Cândido conheceu Martin 64 CAPÍTULO XX - O que aconteceu no mar a Cândido e a Martin 70 CAPÍTULO XXI - Cândido e Martin aproximam-se das costas de França e filosofam 73 CAPÍTULO XXII - O que aconteceu em França a Cândido e a Martin 75 CAPÍTULO XXIII - Cândido e Martin dirigem-se para as costas de Inglaterra e o que por lá vêem 87 CAPÍTULO XXIV - De Paquette e do Irmão Giroflée 89 CAPÍTULO XXV - Visita ao Sr. Pococuranté, nobre veneziano 94 CAPÍTULO XXVI - De uma ceia que Cândido e Martin tiveram com seis estrangeiros e quem eles eram 100 CAPÍTULO XXVII - Viagem de Cândido para Constantinopla 104 CAPÍTULO XXVIII - O que aconteceu a Cândido, Cunegundes, Pangloss, Martin, etc. 108 CAPÍTULO XXIX - Como Cândido reencontrou Cunegundes e a velha 111 CAPÍTULO XXX – Conclusão 113