Esclarecido pelos seus conselhos e para evitar expor-se aos trâmites da justiça e, além disso, sempre impaciente por tornar a ver a verdadeira Cunegundes, Cândido propôs ao funcionário a dádiva de três pequenos diamantes do valor de cerca de três mil pistolas cada um.
- Ah, senhor - disse-lhe o homem do bastão de marfim -, mesmo que tivésseis cometido todos os crimes possíveis e imagináveis, serieis para mim o homem mais honesto do mundo! Três diamantes! Cada um de três mil pistolas! Preferia deixar-me matar por vós, senhor, a meter-vos numa prisão. Agora prendem-se todos os estrangeiros, mas deixai o caso por minha conta. Tenho um irmão em Diepa, na Normandia; vou levar-vos para lá, e, se tiverdes algum diamante para ele, cuidará de vós como se de mim se tratasse.
- E porque é que prendem todos os estrangeiros? - perguntou Cândido.
O abade perigordino tomou então a palavra e disse:
- É porque um mendigo da região de Atrebácia ouviu dizer parvoíces que o levaram a cometer um parricídio, não exactamente como o de Maio de 1610, mas como o de Dezembro de 1594 e como muitos outros, cometidos noutros anos e meses por outros mendigos que tinham ouvido dizer tolices.
O chefe da polícia explicou então do que se tratava.
- Ah, os monstros! - exclamou Cândido. - Quê! Tais horrores num povo que dança e canta! Não poderei sair o mais depressa possível deste país, em que os macacos assustam os tigres? Vi ursos no meu país, mas homens, só no Eldorado. Pelo amor de Deus, Sr. Chefe, levai-me a Veneza, onde devo encontrar-me com a menina Cunegundes.