Eurico, o Presbítero - Cap. 16: Capítulo 16 Pág. 138 / 186

E Astrimiro, guiando os três ginetes pela ladeira abaixo, afagou- os um a um e, segurando-lhes as rédeas ao efípio, deu um silvo com soído particular. Os ginetes fitaram as orelhas, aspiraram ruidosamente o ar e partiram ao galope, por meio da selva, para o lado que Gudesteu indicara.

Este, apenas os viu desaparecer, dirigiu-se para Hermengarda.

— É necessário, senhora — disse ele —, uma derradeira prova de esforço: é necessário partir já. Os nossos ginetes, ensinados a voltarem sós ao campo cristão do deserto quando os ardis ou os perigos da guerra nos obrigam a abandoná-los, não causariam nem estranheza nem receio ao aparecerem aí sem seus donos, se não fossem as circunstâncias extraordinárias da nossa correria. Mas quem poderá dizer ao duque de Cantábria qual sorte nos coube na temerária empresa que cometemos? Quem, senão vós mesma, restituída aos seus braços, lhe dará a certeza de que estais salva das mãos dos infiéis? Para nós, habituados a descer precipícios e a salvar torrentes, aquela ponte estreita e selvática é fácil de transpor, galgando-a rapidamente e sem volver os olhos para o abismo. Invocai toda a energia da vossa alma, todas as vossas forças, para vencer este último obstáculo, e, dentro de poucas horas, veremos os cabeços que rodeiam a caverna de Covadonga. Em leito de ramos tomar-vos-emos sobre nossos ombros na margem fronteira; homens livres e gardingos, faremos mister de servos; porque sois uma dama e porque sois a irmã do nobre e valente Pelágio... Astrimiro, mostrai que o risco só existe quando existe o temor.

Então Astrimiro, olhando fito ante si, atravessou com passos firmes e ligeiros por cima do tronco arredondado e nodoso, e, num relancear de olhos, achou-se do outro lado.

Hermengarda compreendera bem a necessidade de coligir toda a robustez da sua alma naquele momento; mas, ao erguer-se, conheceu que os membros doridos e exaustos quase recusavam obedecer-lhe.





Os capítulos deste livro