Inquietos, também, pela sorte dos companheiros que tinham deixado atrás de si, resolveram parar no meio daquelas ruínas. Salteados de improviso pelos árabes, fácil lhes seria transpor a ponte natural que tinham diante, e as poucas raízes que prendiam o moribundo carvalho à margem aposta cederiam bem depressa aos gumes afiados dos seus franquisques. Então o tronco da velha árvore se despenharia no abismo, e o leito profundo e escarpado do Sália ficaria como uma barreira entre eles e os inimigos.
Descavalgados, os dois guerreiros tomaram nos braços a irmã de Pelágio e foram recliná-la sobre um montículo coberto de relva e musgos, que, pela sua situação no lugar onde, provavelmente, ficava a divisão entre o pretório e a parte inferior do campo, dava indícios de ser o assento das aras dos deuses, que os Romanos usavam colocar no meio dos arraiais. Regelada exteriormente, ao passo que o ardor febril lhe queimava o sangue, Hermengarda, apenas tocou em terra, só pôde pronunciar a palavra sede, caindo amortecida sobre a relva orvalhada. O único sinal que nela revelava a vida era o tremor convulso que violentamente a agitava.
Enquanto Astrimiro subia ao valo, de cujo topo se descortinava melhor, posto que a breve distância, o caminho que haviam seguido, Gudesteu trabalhava em ajuntar alguns troncos de árvores e as folhas secas amontoadas pelos ventos do Estio que as chuvas outonais ainda não tinham arrastado. Brevemente o ar tépido de uma fogueira fez volver a si a donzela: o cavaleiro ofereceu-lhe um pequeno frasco de sícera que desprendera do arção e que lhe restituiu algum vigor aos membros entorpecidos. Depois, Gudesteu chamou o seu companheiro e disse-lhe:
— Os ginetes não podem passar além. Ide e lançai-os para o lado oriental da montanha: eles buscarão o trilho acima das fontes do Sália e descerão a Covadonga.