Eurico, o Presbítero - Cap. 18: Capítulo 18 Pág. 169 / 186

— Que tenho eu com o presbítero de Carteia?!... Hermengarda, lembras-te do seu nome?

Os lábios da donzela fizeram-se brancos ao ouvir esta pergunta: um pensamento monstruoso e incrível lhe passara pelo espírito. Com voz afogada e quase imperceptível replicou:

— Era... era o teu, Eurico!... Mas que pode haver comum entre o guerreiro e o sacerdote? Que importa um nome... uma palavra?... que...

O cavaleiro pôs-se em pé e, deixando descair os braços e pender o rosto sobre o peito, murmurou:

— Há comum, que o guerreiro e o presbítero são um desgraçado só!... Importa, que esse desgraçado é neste momento um sacerdote sacrílego. O pastor de Carteia... — Oh, não acabes! — interrompeu Hermengarda, com indizível aflição.

— Era Eurico o gardingo!

Proferindo estas palavras, que explicavam o mistério da sua existência, o cavaleiro negro viu cair como fulminada a filha de Fávila. E ele não se moveu. A sua imaginação tresvariada afigurou perto de si o vulto suave e triste do venerável Siseberto, que estendia a mão mirrada entre ambos, como para os dividir em nome da religião, que os devia salvar, e do sepulcro, a quem pertenciam.

Neste momento uma grande multidão de crianças, de velhos, de mulheres penetraram na caverna com gritos e choros de terror. No coração das Astúrias, entre alcantis intratáveis, no fundo de um vasto deserto, repetia-se o grito que mil vezes tinha soado na devastada Espanha: «Os árabes!»





Os capítulos deste livro