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Capítulo 7: Capítulo 7

Página 31

Ao aproximarem-se, os dois exércitos de nuvens prolongaram-se em frente um do outro e toparam em cheio. Era uma verdadeira batalha.

Como duas vagas encontradas, no meio de grande procela, que, tombando uma sobre a outra, se quebram em cachões que espadanam lençóis de escuma para ambos os lados, antes que a menos violenta se incorpore na mais possante, assim aquelas nuvens tenebrosas se despedaçavam, derramando-se pela imensidão da abóbada afogueada.

Então, pareceu-me ouvir muito ao longe um choro sentido misturado com gritos agudos, como os do que morre violentamente, e um tinir de ferro, como o de milhares de espadas, batendo nas cimeiras de milhares de elmos.

Mas este ruído foi-se alongando e cessou: os bulcões levantados da banda de África tinham embebido em si os que subiam da Europa, e desciam rapidamente para o lado dos campos góticos.

Depois, senti lá em baixo, na raiz da montanha, um rir diabólico. Olhei: o Calpe esboroava-se ao redor de mim, e os rochedos sobre que eu estava assentado vacilavam nos seus fundamentos.

Despertei. Tinha os cabelos hirtos, e o suor frio manava-me da fronte aquecida por febre ardente.

Senhor, Senhor! foste tu que deste a ler à minha alma a última página do livro eterno em que a Providência escreveu a história do Império Godo?

Contam-se cousas incríveis desses povos que assolam a África, chamados os Árabes, e que, em nome de uma crença nova, pretendem apagar na terra os vestígios da Cruz. Quem sabe se aos Árabes foi confiado o castigo desta nação corrupta?

Já as nossas praias foram visitadas por eles, e para os repelir cumpria que desembainhasse a espada o ilustre Teodemiro, o último guerreiro, talvez, que mereça o nome de neto dos Godos.

Terra em que nasci, se o teu dia de morrer é chegado, eu morrerei contigo. Na procela que se alevanta de África deixarei submergir o meu débil esquife, sem que a esses gemidos que ouvi se vão ajuntar os meus. Que me importa a vida ou a morte, se o padecer é eterno?

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pág. 31 (Capítulo 7)

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Capa do livro Eurico, o Presbítero
Páginas: 186
Página atual: 31

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 4
Capítulo 3 7
Capítulo 4 12
Capítulo 5 18
Capítulo 6 22
Capítulo 7 28
Capítulo 8 32
Capítulo 9 46
Capítulo 10 55
Capítulo 11 63
Capítulo 12 71
Capítulo 13 90
Capítulo 14 105
Capítulo 15 121
Capítulo 16 134
Capítulo 17 148
Capítulo 18 158
Capítulo 19 171
Capítulo 20 176