Eurico, o Presbítero - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 57 / 186

O recontro dessa ala foi semelhante em tudo ao do grosso das duas hostes, salvo que aí o franquisque encontrava no ar o franquisque, a injúria de godos respondia à injúria proferida por bocas de godos, e as imprecações do ódio trocavam-se com maior violência ainda. Teodemiro combatia à frente das suas tiufadias onde mais aceso ia ser o travar da batalha, sem, todavia, esquecer o ofício de capitão. Era isto; era o exemplo que tornava invencíveis os seus soldados. Guiando os cavaleiros tingitanos, Juliano também rompera primeiro adiante dos árabes. Os dois antigos companheiros de combates haviam topado em cheio, e as lanças voaram-lhes das mãos em rachas. Os cavaleiros passaram um pelo outro como relâmpagos, para logo tornarem a voltar, arrancando das espadas.

— Circuncidado! — bradou Teodemiro, ao perpassar por Juliano na rapidez da carreira.

— Escravo! — replicou o conde de Septum, rangendo os dentes.

A injúria vibrada pelo duque de Córdova penetrara mui fundo. Semelhante a Judas, o conde da Tingitânia traíra a pátria pela cobiça e, defendendo o estandarte do profeta de Medina, fazia triunfar o Corão. Duas vezes a sua alma era a de um circunciso.

Os dois cavaleiros godos acometeram-se com toda a fúria de rancor entranhável: as espadas, encontrando-se no ar, faiscaram como o ferro abrasado na incude; mas a de Teodemiro fora vibrada por braço mais robusto, e, posto que o golpe descesse amortecido, ainda entrou profundamente no escudo que o seu adversário levava erguido sobre a cabeça. Entretanto Juliano, revolvendo ligeiro a espada, rompeu a couraça do duque de Córdova e feriu-o levemente no lado.





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