O Retrato de Ricardina - Cap. 17: CAPÍTULO XVII - ENTRE A DEMÊNCIA E A MORTE Pág. 116 / 178

Dito isto”, concluía Sebastião Pimentel, “as providências estão dadas para resistir aos assaltos, venham eles donde vierem, já que a fidalguia de certos homens os não embaraça de ameaçarem de morte os seus próprios parentes.”

E, em testemunho de verdade, assinavam os três Pimenteis, pai e filhos, o cartel enviado ao neto da senhora de Amarante que matava homens a tiro. Norberto Calvo rodeava ansiadíssimo o patrão, esperando palavra que o elucidasse.

O abade concentrou-se, ponderando o apelo feito à sua clara geração, e sentiu-se brandamente descido da contraditória soberbia dos seus foros. Não respondera ao mensageiro: mas despedira bem galardoados os paladins da sua honra, enviando-os a Midões, com promessas de os proteger diante de el-rei nosso senhor, e redimi-los das culpas que os traziam transmontados e a corso.

De feito, Ricardina, sem leve constrangimento, aceitou o destino que a sua irmã lhe ofereceu; porque bem sabia ela que, passado algum tempo, por força tinha de fugir daquela casa para esconder os sinais da maternidade. Eugénia, subordinada pelo sogro e marido, aconselhou-a a recolher-se num mosteiro de Lisboa, onde as suas desventuras seriam sempre ignoradas, se ela as ocultasse, como lhe convinha. Prometeram-lhe recursos para viver largamente, e quantas diligências pudessem para que o pai lhe perdoasse e a readmitisse à sua estima.

Tudo agradeceu Ricardina: tudo lhe parecia melhor do que a presença do seu cunhado, e as lástimas do tio, que se apercebia de gente e balas, sem contudo espancar o medo de morrer queimado e entulhado nas ruínas do seu solar.

Quando Norberto ouviu o zumbido do pelouro, já Ricardina levava duas léguas andadas, caminho de Lisboa. Acompanhava-a o velho capelão dos Pimenteis na





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