Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 17: CAPÍTULO XVII - ENTRE A DEMÊNCIA E A MORTE

Página 115
- Roubaram-me as filhas? Perverteram-mas, fizeram-lhes odioso o seu pai, que as enriqueceu? Pois bem: hão de pagar-mas caras eles e elas. Enquanto eu tiver gota de sangue, hei de cuspi-lo na cara de quem envergonhou a minha. Oh, se hei de!... Eu sou Botelho de Queirós, por pai e mãe. Vão a Amarante saber como até as mulheres da minha família se vingam ... Os covardes, se começarem nesta ilustre linhagem, não há de ser por mim.

Norberto era auditório indigno do trágico monólogo. Esbugalhava os olhos a ver se lhe atinava com o intento, ou, mais sobre o certo, imaginava o que havia de fazer para arrancar Ricardina de casa dos Pimenteis. O que mais lhe urgia era poder falar-lhe ou conseguir que a mãe a visse. Aproveitando o lanço favorável, enviou a velha à Reboliça. Era já noite. A velha voltou dizendo que todas as portas estavam trancadas. Norberto saiu, fora de horas, e afoitou-se a vizinhar das solarengas torres dos Pimenteis, afortalezadas com duas peças de artilharia e as suas atalaias que sobrerroldavam, na incerteza do ataque. A distância de vinte passos trovejaram-lhe um quem vem lá! Como ele não respondesse, silvou-lhe uma bala por cima da cabeça, escodeando a cortiça de um sobreiro, cujas lascas lhe roçaram as barbas. Desanimou Norberto Calvo, e retrocedeu dizendo entre si:

- Se estes diabos me matavam, quando eu ando aqui só para fazer bem!

Ao outro dia, Sebastião Pimentel, intimados os caseiros para guarnecerem a casa, enviou um mensageiro ao abade com a seguinte nota: “Que D. Ricardina de Queirós já não residia naquela casa. Que o entregarem-na a um pai cego de ódio seria ação reprovada e indigna de Pimenteis. Que o conservarem-na, também impugnava ao seu pundonor. Pelo que, deliberaram enviá-la para mais de cinquenta léguas de distância, e tomavam ao seu encargo dar-lhe os necessários alimentos, no mosteiro onde ela provavelmente ia recolher-se.

<< Página Anterior

pág. 115 (Capítulo 17)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Retrato de Ricardina
Páginas: 178
Página atual: 115

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CAPÍTULO I - O ABADE DE ESPINHO 1
CAPÍTULO II - UM AMIGO! 9
CAPÍTULO III – REAÇÕES 12
CAPÍTULO IV - BERNARDO MONIZ 19
CAPÍTULO V - MÃE E FILHA 25
CAPÍTULO VI – AGONIAS 32
CAPÍTULO VII - O QUE ELA PEDIA A JESUS 39
CAPÍTULO VIII - O BEM-FAZER DA MORTE 45
CAPÍTULO IX - ATÉ QUE ENFIM! 52
CAPÍTULO X - A SORTE 59
CAPÍTULO XI - MEMÓRIAS DOLOROSAS 66
CAPÍTULO XII – ESPERANÇAS 75
CAPÍTULO XIII - NORBERTO CALVO 80
CAPÍTULO XIV - PLANOS DO ABADE 88
CAPÍTULO XV - COMO O SENTIMENTO DA GRATIDÃO FEZ UM TIGRE 94
CAPÍTULO XVI - E O SOL NASCIA FORMOSO! 104
CAPÍTULO XVII - ENTRE A DEMÊNCIA E A MORTE 112
CAPÍTULO XVIII - O QUE FEZ A IGNORÂNCIA DO ESTILO FIGURADO 118
CAPÍTULO XIX - TÁBUA DE SALVAÇÃO 122
CAPÍTULO XX - OBRAS DO TEMPO 125
CAPÍTULO XXI - VANTAGENS DE CINCO PRÉMIOS 132
CAPÍTULO XXII - OS “DEZ-RÉIS” DA VISCONDESSA 136
CAPÍTULO XXIII - A RODA DA FORTUNA 141
CAPÍTULO XXIV - A NETA DO ABADE DE ESPINHO 147
CAPÍTULO XXV - O CORAÇÃO NÃO SE REGULA PELAS LEIS VISIGÓTICAS 156
CAPÍTULO XXVI - O REPATRIADO 161
CAPÍTULO XXVII - O RETRATO DE RICARDINA 166
CAPÍTULO XXVIII - ENFIM... 171
CAPÍTULO XXVIII – CONCLUSÃO 177