O Retrato de Ricardina - Cap. 18: CAPÍTULO XVIII - O QUE FEZ A IGNORÂNCIA DO ESTILO FIGURADO Pág. 120 / 178

Em Oviedo o encontrou Norberto dirigido pelas informações do espanhol, a cujos parentes Bernardo fora recomendado.

- Ricardina?! Vens sem ela, meu amigo?! - exclamou o foragido.

Norberto encarou-o com a cabeça altiva, e disse vigorosamente:

- Vossa Senhoria é homem?

- Se sou homem! Porque me fazes semelhante pergunta?

- Tem ânimo?

- Tenho!... Que vais dizer-me?

- Olhe lá! Eu gosto de um homem, que este, ainda que todos os diabos do Inferno se levantem contra ele, não dê de si! Nas ocasiões é que se mostra quem vai coa cara para diante, e não há nada que o faça ir a terra!

- Conta comigo para tudo, Norberto! - disse Bernardo entusiasticamente, persuadido da precisão de algum arriscado arrojo a fim de tirar Ricardina das presas do pai. - É necessário voltar a Portugal?

- Deus nos guarde disso! - atalhou o Calvo. - Se o lá pilhassem, enforcavam-no!

- Então que é?

- Que é, Sr. Doutor? É que a Sr.ª D. Ricardina...

- Que é?

- Morreu.

- Quê? - bradou Bernardo apertando as fontes com as mãos convulsivas, e oscilando nas pernas, que fraquejavam gradualmente, a ponto de vergarem.

Norberto cresceu para ele, apertou-o pela cintura, e, amparando-o na queda, exclamou:

- Então que homem é o senhor? Tem ânimo ou não tem? Sr. Bernardo, pela alma do seu pai e do seu irmão, não seja fraco! Eu vim aqui para estar com vossa senhoria nesta ocasião, e olhe que nunca mais o deixo. Hei de ir com o meu amigo para toda a parte. A minha pobre ama morreu; mas cá fica o senhor para eu lhe dar toda a minha vida e coração. Sr. Doutor!... então!... Volte a si, e seja forte; que não há remédio senão ter paciência!

Bernardo Moniz não o ouvia. O Calvo, conquanto lhe visse os olhos muito abertos, e sentisse o arquejante respirar de vaporação ardente, apalpava-lhe o coração, receando não lhe ouvir os latejos.





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