Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 18: CAPÍTULO XVIII - O QUE FEZ A IGNORÂNCIA DO ESTILO FIGURADO

Página 119
Ninguém ousava. Norberto, se alguma vez aventurava palavras vagas, respeito às ruínas do palácio quer perguntando se ainda ninguém mexera no entulho, quer indagando quem tomaria posse dos bens dos Monizes, não vingara tirar-lhe resposta animadora de outras perguntas. Um dia porém, o Calvo arrojou-se a cortar direito através de medos e respeitos perguntando ao abade:

- Que será feito da fidalga?

- Que fidalga?

- Da Sr.ª D. Ricardina?

- Essa mulher morreu! Não me fales mais nela se queres continuar nesta casa.

- Morreu! - exclamou Norberto pondo as mãos.

O padre voltou lhe as costas.

O rústico não entendeu o figurado da resposta, e percebeu que D. Ricardina realmente era falecida. Escondeu-se a chorar; mas o ódio ao abade sobrepujava os sentimentos ternos. A índole, naquela hora, propendia-o mais ao sangue do que às lágrimas. Afogueou-lhe por momentos a cabeça o pensamento de vingar Ricardina, cortando os fios da vida ao implacável algoz de tantas pessoas; mas desse crime inútil o salvou a lembrança de Bernardo Moniz, que o esperava em Espanha. No mesmo dia, despediu-se do amo.

- Porque te vais da minha casa? - inquiriu o abade.

- Porque não quero servir mais Vossa Senhoria - respondeu secamente Norberto.

- Um criado que me serviu vinte e seis anos pode deixar-me!.

- Perdoará, Sr. Abade; não tenho remédio senão sair.

- Faze o que quiseres. Criados não faltam.

- Bem sei, Sr. Abade.

- Pois se sabes, rua!

- Já cá vou - disse o Calvo, saindo.

Passou por casa da sua mãe, abraçou-a, deu-lhe metade das suas soldadas, e partiu para Espanha. Chegado a Espejo, soube que Paulo de Campos saíra para Oviedo, e deixara secreto recado para ser lá procurado. O aparecimento de espiões portugueses nas fronteiras de Espanha motivara o internar-se nas Astúrias o estudante, deixando o aviso do seu destino a um espanhol liberal que o julgava emigrado político.

<< Página Anterior

pág. 119 (Capítulo 18)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Retrato de Ricardina
Páginas: 178
Página atual: 119

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CAPÍTULO I - O ABADE DE ESPINHO 1
CAPÍTULO II - UM AMIGO! 9
CAPÍTULO III – REAÇÕES 12
CAPÍTULO IV - BERNARDO MONIZ 19
CAPÍTULO V - MÃE E FILHA 25
CAPÍTULO VI – AGONIAS 32
CAPÍTULO VII - O QUE ELA PEDIA A JESUS 39
CAPÍTULO VIII - O BEM-FAZER DA MORTE 45
CAPÍTULO IX - ATÉ QUE ENFIM! 52
CAPÍTULO X - A SORTE 59
CAPÍTULO XI - MEMÓRIAS DOLOROSAS 66
CAPÍTULO XII – ESPERANÇAS 75
CAPÍTULO XIII - NORBERTO CALVO 80
CAPÍTULO XIV - PLANOS DO ABADE 88
CAPÍTULO XV - COMO O SENTIMENTO DA GRATIDÃO FEZ UM TIGRE 94
CAPÍTULO XVI - E O SOL NASCIA FORMOSO! 104
CAPÍTULO XVII - ENTRE A DEMÊNCIA E A MORTE 112
CAPÍTULO XVIII - O QUE FEZ A IGNORÂNCIA DO ESTILO FIGURADO 118
CAPÍTULO XIX - TÁBUA DE SALVAÇÃO 122
CAPÍTULO XX - OBRAS DO TEMPO 125
CAPÍTULO XXI - VANTAGENS DE CINCO PRÉMIOS 132
CAPÍTULO XXII - OS “DEZ-RÉIS” DA VISCONDESSA 136
CAPÍTULO XXIII - A RODA DA FORTUNA 141
CAPÍTULO XXIV - A NETA DO ABADE DE ESPINHO 147
CAPÍTULO XXV - O CORAÇÃO NÃO SE REGULA PELAS LEIS VISIGÓTICAS 156
CAPÍTULO XXVI - O REPATRIADO 161
CAPÍTULO XXVII - O RETRATO DE RICARDINA 166
CAPÍTULO XXVIII - ENFIM... 171
CAPÍTULO XXVIII – CONCLUSÃO 177