O Retrato de Ricardina - Cap. 22: CAPÍTULO XXII - OS “DEZ-RÉIS” DA VISCONDESSA Pág. 138 / 178

.. É verdade, tenho mais os dez-réis da fidalga, sobre a quantia dos trinta e um mil e quinhentos.

- Então quem é a generosa ricaça que prodigalizou tamanha parte da sua riqueza aos cinco pobres? - perguntou D. Ricardina sorrindo.

- É a Sr.ª Viscondessa da Gandarela, que a minha mãe não conhece nem eu, senão de saber que são cem os pretendentes a renovar-lhe as delícias do casamento. É uma divindade que pôs os seus divinos dedos neste pedacinho de cobre safado - continuou ele, fazendo regirar a moeda sobre a mesa. - Veja como é a caridade dos ricos... e das ricas... o que mais espanta!

- Pois, filho... é assim, é!... Dá tudo o que tiveres na vontade, porque as esmolas têm bênção do Céu. Parece que Deus restitui o que a gente dá aos seus filhos pobrezinhos.

No dia seguinte, às onze horas, o guarda-portão fez sinal. A viscondessa assomou na janela, e, cravando os olhos no desconhecido, lembrou-se de o ter visto no dia antecedente a encará-la com insolente fixidez. Notou, ainda, que ele ia passando, sem levantar a vista da calçada. Examinou-o fitamente pelas costas, e conveio na observação do criado: que não cheirava a grande pessoa.

Isto não obstante, quis saber quem fosse a criatura singular que deu quatro mil e quinhentos pelos seus dez-réis. No caprichoso intento, ordenou ao criado que indagasse.

Às três horas, a viscondessa estava na janela. Acertara de passar o incógnito com um seu condiscípulo, conhecido da viúva. O cavalheiro lisbonense cortejou a ilustre dama; Alexandre tocou levemente na aba do chapéu, ladeando ligeiramente os olhos para a senhora cortejada.

- Hás de ir hoje procurar - disse a viúva ao criado - o Sr. Mesquita, e pedir-lhe que entre na minha casa, quando passar.

O bacharel Mesquita passou imediatamente e fez-se anunciar à Sr.





Os capítulos deste livro