O Retrato de Ricardina - Cap. 28: CAPÍTULO XXVIII - ENFIM... Pág. 174 / 178

Escute-me, com a disposição de mostrar que é forte e que me ensinou a mim a valentia da alma. Quando meu avô mandou os assassinos assaltar a casa do meu pai, Norberto matou os dois criados que o esperavam no sítio por onde ele ia a fugir do incêndio. O meu pai saiu levemente ferido, e fugiu para Espanha. Norberto disse que ele tinha morrido às mãos dos dois criados que já estavam enterrados nas ruínas da casa. A ideia do meu pai era, passando por morto, fazer cessar a perseguição, e esperar minha mãe na Espanha; mas Norberto, que não entendeu o que o meu avô queria significar na palavra morreu, foi juntar-se ao seu amigo e nunca mais se afastou dele.

- Ó meu filho! - exclamou Ricardina - torna a dizer... diz... que a minha cabeça está perdida...

- Pois aí está! O que eu pretendo e suplico é que a minha mãe me escute com serenidade. O que eu lhe disse não é necessário repetir-lho...

- Sim... - redarguiu a mãe - , entendi que o teu pai não morreu então; mas ficou ferido... e morreu depois...

- Agora morreu! - exclamou Norberto. - O ferimento não prestava pra nada.

- Não morreu?! - disse alheada a mãe de Alexandre.

- Não, minha mãe.

- Jesus!... Eu não entendo o que me dizem... que é, meu filho, que é o que vais dizer-me?

- Que o meu pai...

- Sim...

- Pode ser que ainda viva.

- Aonde? Meu Deus, aonde? - exclamou ela descaindo do sofá ao tapete, em joelhos com as mãos postas.

- É isso que nós vamos averiguar, ajudados pelas diligências do nosso amigo Norberto. O meu pai, depois que recebeu a falsa nova da sua morta, foi para África, e lá ficou, e lá estava há pouco tempo.

- Quem o viu? - bradou Ricardina.

- Fui eu, fidalga - disse Norberto.

- Viste-o!... Viste-o, Norberto! - gritou ela abraçando-se arrebatadamente no velho.





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