O Retrato de Ricardina - Cap. 5: CAPÍTULO V - MÃE E FILHA Pág. 30 / 178

- E tu que me prometes, filha? - sobreveio D. Clementina, afetando alivio no sorriso.

- Que hei de eu prometer?

- Casas com o meu sobrinho Carlos?

- Não posso, minha mãe, porque tenho ódio àquela gente. Nunca os vi nesta casa senão depois que podiam levar daqui não sei que dinheiro. O que eles querem é que eu e a minha irmã levemos o dinheiro que lá é preciso...

- Tens razão! - exclamou expansivamente D. Clementina. - Tens razão! A tua alma vê bem as indignidades da minha família! Agora, imagino quanto será grande a tua repugnância!... Não ta combato... faz o que te disser o bom anjo das tuas orações... Vai para o convento, vai, meu amor. Os teus primos não me conheciam antes de saber-se que o teu pai dava trinta mil cruzados a cada filha. Voltavam-me o rosto, se acaso me viam, quando eu ia para eles com o coração cheio de ternura!... Eram aqueles mesmos que há um mês me beijaram a mão... eles, para quem eu tinha olhado com a humildade de pecadora a pedir-lhes que me concedessem o prazer de os contemplar... e me deixassem sentir o contentamento de ainda ter família, de pisar ainda as tábuas em que passei a juventude... Vexavam-se de me ver... - prosseguiu ela com transportada e veemente cólera. - Fugiam-me e creio até que o pai os castigaria, se me não fugissem Oh! Tu não sabes as desonrosas condições que eles puseram, antes de aqui virem pedir-te e a tua irmã... Nem eu tas digo, porque quero esconder de ti o orgulho do teu pai, orgulho misturado com baixeza... Ainda assim, quando vi os filhos do meu irmão, alegrei-me, imaginei-me outra vez na casa dos meus pais, rodeada de família, de tantos parentes, de tantas amigas, que todas me cuspiram na cara, pensando que não bastavam as lágrimas para o tormento!... Pobre mulher! Foi uma fraqueza de que tu me levantas, filha! Ensinas-me a ser nobre na desgraça, e mais não sabes quanto me cumpria sê-lo.





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