O Retrato de Ricardina - Cap. 8: CAPÍTULO VIII - O BEM-FAZER DA MORTE Pág. 50 / 178

Tens ainda sete meses para sondar a tua inclinação. Por obediência não professes; se amares ainda Bernardo, não professes também. Espera com esse hábito o chamamento de Deus, que te há de mover alegremente. Sem isso não te ofereças a um sacrifício inútil para o Senhor, e perigoso, e desgraçadíssimo para ti. Não me palpita o coração - pobre coração que está morto! - qual seja o teu futuro...

Quem sabe! Talvez ainda venhas a casar com Bernardo. Se tal acontecer, Ricardina, diz-lhe que eu também lhe quis como podem querer as mães aos que tão nobremente lhes amam as filhas. Era merecedor da tua alma, era... Deus vê tudo... Espera, filha. Pode ser... eu vou pedir muito ao Senhor que te deixe ser feliz.

Descansou a doente, atormentada pelas dores do seio, e continuou:

- E Eugénia que não veio ver-me!... Quantas cartas lhe escreveste, Ricardina?

- Três, minha mãe.

- Que te disse ela?

- Primeiro, que estava também doente... Depois, que estava doente o primo Luís. À terceira, também...

- Não respondeu?

- Não, minha mãe.

- Pois perdoo-lhe... Se ela se ligou aos meus parentes contra a sua mãe, também lhe perdoo... Disse-te ela que era feliz?

- Ah! isso escreve ela sempre.

- Ainda bem. O Luís será muito amigo dela?

- Diz que não há esposa mais adorada, e pede-me: que vá gozar a felicidade que ela goza.

- Não é bom conselho... Cada qual tem o seu modo de ser feliz... E do pai não diz nada?

- Não se lembra, mãe? Fala muito mal dele... Chama-lhe cruel e bárbaro.

- Pobre homem! Que velhice há de ser a dele.

Neste ponto, recresceu-lhe a ansiedade, agravada pelos soluços tirados do peito sem ar. Pediu por acenos à filha que lhe chegasse aos lábios o crucifixo. Apertou-o ao peito convulsivamente, enquanto Ricardina foi chamar as religiosas das celas próximas.





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