O Retrato de Ricardina - Cap. 11: CAPÍTULO XI - MEMÓRIAS DOLOROSAS Pág. 73 / 178

- Ser-nos-á necessário? - exclamou um dos treze.

- Deve ser... - respondeu outro, dando o exemplo de embolsar um dos sacos.

- Outra infâmia! - murmurou Bernardo Moniz, rompendo a fuga com os dedos fincados na cara, e afastando-se dos companheiros.

- Olha que não é esse o itinerário! - lhe bradou Urbano de Figueiredo.

- Já não recebo ordens - replicou o beirão, cosendo-se com uma ribanceira.

- Deixá-lo ir - disse coiceiro. - A ocasião é má para o fazer entrar na ordem... Sigam-me.

Três dos treze detiveram-se um momento, indecisos sobre seguir Bernardo ou coiceiro. Decidiu-os pelo primeiro o apoio que lhe tinham dado na repugnante e desnecessária crueldade afeiada pela ignomínia do roubo. Uniram-se, pois, os quatro nomes que ninguém ouviu nos pregões levantados desde o Limoeiro até à forca, no dia 20 de Junho de 1828. Um dos três, que o seguiram, era António Maria das Neves Carneiro.

A minudenciosa descrição dos factos decorridos desde o crime até ao suplício, na morosa agonia de três meses, é alheia do nosso intento. Escreveram pouco do feito reprovadíssimo os coevos. Propriamente os liberais esconderam o rosto para lhes não bater a bofetada dos inimigos. As lágrimas, derramadas no seio das famílias, cobertas de vilipendioso crepe, não bastaram a fazer levantar olhos piedosos às cabeças de Matos, Megre e coiceiro, expostas nos ângulos da forca.

Não paremos diante deste espetáculo, leitor. Se tem filhos, se um dia os há de afastar longe de si, onde os braços do seu amor não cheguem para salvá-los, pense e chore. Depois, estreite-os ao coração, deixe que eles se revejam nos seus olhos embaciados de lágrimas, e diga-lhes:

- Todos estes jovens tinham mãe ou pai que os choraram. Até a sepultura lhes foi defesa; porque não houve aí pai que ousasse pedir os ossos do seu filho.





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