O Retrato de Ricardina - Cap. 13: CAPÍTULO XIII - NORBERTO CALVO Pág. 86 / 178

Doutor, e dizer-lhe: “Quero ver a minha menina; diga-lhe que está em Coimbra o Calvo.” Morra eu, se ela me não mandasse logo entrar!

- Mandava, Norberto; mas, se a quiseres ver, hás de ir a casa do meu pai, onde ela deve estar a esta hora.

- Vossa Senhoria que me diz! Em casa do seu pai!?

- Sim.

- Oh! Com mil diabos! Se o abade o sabe! Olhe que ele já tem mais de trinta homens a receber soldada para saírem armados à primeira ordem. Só lá em casa tem sete de Midões a comer e beber e a ganhar doze vinténs por dia. Os outros estão à espera que eu os vá reunir. E ninguém me tira da cabeça que a primeira faxina é em casa de vossa Senhoria; depois não sei se escapará a família da Reboliça, e mais tem lá casada a Sra. D. Eugeninha. Diz ele que os há de perseguir até os meter no Inferno aos fidalgos lá da parte da senhora fidalga velha que Deus lhe fale na alma. De maneira que a Sra. D. Ricardina foi mal guiada lá para Espinho; que não vá isso assanhar mais o pai e ir aí o diabo a quatro!

Prolongou-se a conversa animada. Combinaram sair de noite, e seguir a estrada até encontrarem vereda transversal que por entre serranias os levasse ao Criz. Ao meio-dia, Norberto foi a Condeixa sob o disfarce de saber notícias dos estudantes presos. Proveu-se de alimentos, arraçoou o macho fartamente, e voltou ao pinhal onde deixara Bernardo Moniz enroupado no seu capote.

Assim que escureceu, tirou o bacamarte do arção, escorvou-o com pólvora nova, acomodou o estudante, agasalhando - lhe as pernas entorpecidas da submersão em que as tivera debaixo da ponte, saiu à frente do macho, e disse:

- Vamos lá com Deus! O Sr. Doutor, se vir que nos sai gente, não espere por mim. Esporas ao macho, e não olhe para trás. Eu lá irei ter, se me deixarem.





Os capítulos deste livro