O Retrato de Ricardina - Cap. 13: CAPÍTULO XIII - NORBERTO CALVO Pág. 85 / 178

Depois, como a bouça era entremeada de grandes clareiras, visíveis dos picotos da montanha eminente, prosseguiram até se embrenharem num pinhal, cujas ramarias estilavam ainda o orvalho da noite.

Apeou-se Bernardo nos braços do confidente de Ricardina, e voltando-se peito com peito abraçou-o com efusão de lágrimas, exclamando:

- Foi Deus que te enviou no meu socorro, meu amigo!

- Agora é comer! - disse Norberto, despejando os alforges. - Ainda temos meia galinha, dois salpicões cozidos e pão branco. Vinho não no há; mas bebe-se água, que corre lá em baixo um regato. Ande-me, Sr. Doutor! Coma bem, se tem vontade. Olhe esta perna de galinha; vá misturando com o salpicão. Se quiser água, vou-lha buscar nas abas do chapéu. De fome já não morremos hoje. O pior é o macho, que não come rama de pinho; mas o descanso também é mantença.

Recobrou cores o estudante assim que deglutiu os primeiros bocados.

- Para onde ias, Norberto? - perguntou Bernardo.

- Para Coimbra.

- O teu amo já sabia da morte dos lentes?

- Não, senhor; pois como havia de ele saber, se eu fiquei atónito, quando mo contaram ontem à noite na estalagem de Porto Coelheiro!

- Mas que caminho trouxeste de Viseu para aqui?

- É que o meu amo mandou-me à Redinha com carta a um fidalgo não sei para quê. Acho que é coisa de partidos pra se levantarem guerrilhas por todo o reino; que eu também desconfio que o Sr. Abade o que quer é saber se está em Pombal o corregedor que fugiu de Viseu quando meu amo saiu da cadeia.

- Mas que ias tu fazer a Coimbra?

- Ia ver a fidalga. Vossa Senhoria já casou com ela?

- Ainda não.

- Pois é preciso casar, senão arrenego-me, e vai tudo cos diabos. É ao que eu ia.

- E sabias onde ela estava?

- Não; mas o meu objetivo era procurar o Sr.





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