A Origem das Espécies - Cap. 6: CAPÍTULO V
LEIS DA VARIAÇÃO Pág. 154 / 524

Por isso, tendo a encarar a adaptação a qualquer clima especial como uma qualidade prontamente inserida numa grande e inata flexibilidade de constituição, comum na maioria dos animais. Nesta perspectiva, não se deve entender como anomalias a capacidade do próprio homem e dos seus animais domésticos para suportar os climas mais distintos, e factos como o de espécies antecessoras do elefante e do rinoceronte serem capazes de suportar um clima glacial, enquanto todas as espécies que hoje vivem têm hábitos tropicais ou subtropicais, mas apenas como exemplos de uma flexibilidade de constituição muito comum, que entra em acção em circunstâncias especiais.

A questão de saber quanto da aclimatização das espécies a qualquer clima particular se deve ao mero hábito, quanto à selecção natural das variedades com constituições inatas diferentes, e quanto à combinação de ambos os meios, é muito obscura. Tenho de crer que alguma influência é exercida pelo hábito ou o costume, tanto por analogia como pela advertência, que aparece repetidamente nos tratados agrícolas, inclusive nas antigas enciclopédias chinesas, para se ter muito cuidado na deslocação de animais de uma região para outra; pois não é provável que o homem tenha conseguido seleccionar tantas linhagens e sub-linhagens com constituições especialmente adaptadas às suas próprias regiões: creio que o resultado se deve forçosamente ao hábito. Por outro lado, não vejo razão para duvidar de que a selecção natural tenda continuamente a preservar os indivíduos que nascem com constituições mais bem adaptadas às suas regiões de origem. Em tratados sobre muitos tipos de plantas de cultivo, afirma-se que determinadas variedades suportam melhor do que outras determinados climas: isto mostra-se de





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