A Origem das Espécies - Cap. 6: CAPÍTULO V
LEIS DA VARIAÇÃO Pág. 180 / 524

Quando as linhagens mais antigas e puras de várias cores se cruzam, vemos uma forte tendência para o reaparecimento do matiz azul e das riscas e marcas nos mistos. Afirmei que a hipótese mais provável para explicar o reaparecimento de caracteres muito antigos é a de haver nas crias de cada geração sucessiva uma tendência para produzir o carácter há muito perdido, e que esta tendência, devido a causas desconhecidas, por vezes prevalece. Acabámos de ver que em diversas espécies do género equino as listras ou são mais nítidas ou aparecem mais comummente na cria do que no adulto. Chame-se às linhagens de pombos, das quais algumas geraram animais puros durante séculos, «espécies»; como é exacta a analogia entre este caso e o das espécies do género equino! Por mim, atrevo-me com confiança a recuar mentalmente milhares sobre milhares de gerações, e vejo um animal listrado como uma zebra, mas talvez noutros aspectos muito diferentemente concebido, o antecessor comum do nosso cavalo doméstico, descenda ou não de uma ou mais castas selvagens, do burro, do hemíono, do quaga, da zebra.

Quem acredita na criação independente de cada espécie equina afirmará, presumo, que cada espécie foi criada com uma tendência para variar, em estado de natureza como sob domesticação, desta maneira particular, de modo a tornar-se amiúde listrada, como as outras espécies do género; e que cada espécie foi criada com uma forte tendência para produzir, quando cruzada com outra espécie que habita partes distantes do mundo, híbridos que nas suas listras se assemelham, não aos próprios progenitores, mas a outras espécies do género. Consentir nesta perspectiva é, parece-me, rejeitar uma causa real a favor de uma causa irreal, ou pelo menos desconhecida. Transforma





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