A Origem das Espécies - Cap. 7: CAPÍTULO VI
DIFICULDADES ENFRENTADAS PELA TEORIA Pág. 215 / 524

Os efeitos da selecção sexual, quando exibidos na beleza para encantar as fêmeas, podem ser considerados úteis apenas num sentido bastante forçado. Mas de longe a consideração mais importante é que a parte principal da organização de cada ser se deve simplesmente à hereditariedade; e, consequentemente, embora cada ser esteja decerto bem ajustado ao seu lugar na natureza, muitas estruturas hoje não têm qualquer relação directa com os hábitos de vida de cada espécie. Assim, dificilmente podemos acreditar que os pés membranosos do ganso-das-terras-altas ou da ave fragata têm uma utilidade especial para estas aves; não podemos acreditar que os mesmos ossos no braço do macaco, na perna dianteira do cavalo, na asa do morcego e na barbatana da foca são de utilidade especial para estes animais. Podemos atribuir seguramente estas estruturas à hereditariedade. Mas para o progenitor do ganso-das-terras-altas e da ave fragata, os pés membranosos eram sem dúvida tão úteis como o são hoje para as mais aquáticas das aves existentes. Pelo que podemos acreditar que o progenitor da foca não tinha uma barbatana, mas um pé com cinco dedos ajustados ao caminhar e ao agarrar; e podemos arriscar ainda a crença em que os diversos ossos nos membros do macaco, do cavalo e do morcego, que foram herdados de um progenitor comum, tinham anteriormente uma utilidade mais especial para esse progenitor, ou para os seus progenitores, do que hoje têm para estes animais com hábitos tão amplamente diversificados. Podemos portanto inferir que estes diversos ossos podem ter sido adquiridos por selecção natural, sujeitos anteriormente, como hoje, às diversas leis da hereditariedade, reversão, correlação de crescimento, etc. Pode-se portanto ver cada detalhe de estrutura




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