A Origem das Espécies - Cap. 8: CAPÍTULO VII
INSTINTO Pág. 226 / 524

Não é possível que algum instinto complexo seja produzido através da selecção natural, excepto pela acumulação lenta e gradual de variações numerosas, ligeiras, porém proveitosas. Portanto, como no caso das estruturas corporais, não devemos encontrar na natureza as efectivas gradações transicionais pelas quais cada instinto complexo foi adquirido - pois estas só se poderiam encontrar nos ancestrais directos de cada espécie -, mas devemos encontrar nas linhas de ascendência colaterais algum indício dessas gradações; ou devemos no mínimo ser capazes de mostrar que pode haver gradações de algum tipo; e isto certamente podemos fazer. Fiquei surpreendido por verificar, tendo em conta que excepto na Europa e na América do Norte os instintos dos animais foram pouco observados e que se desconhece quaisquer instintos nas espécies extintas, quão geralmente se pode descobrir gradações que levam aos instintos mais complexos. O cânone «Natura non facit saltum» aplica-se aos instintos quase com a mesma força que aos órgãos corporais. As mudanças de instinto podem por vezes ser facilitadas pelo facto de a mesma espécie ter instintos diferentes em períodos de vida diferentes, ou em diferentes estações do ano, ou quando colocada sob circunstâncias diferentes, etc., caso em que a selecção natural pode preservar ou um ou outro instinto. E pode-se mostrar que ocorrem na natureza semelhantes exemplos de diversidade de instinto na mesma espécie.

Mais uma vez, como no caso da estrutura corporal e em conformidade com a minha teoria, o instinto de cada espécie é bom para essa espécie, mas nunca, tanto quanto sabemos, foi produzido para o exclusivo bem de outros. Um dos exemplos mais fortes com que estou familiarizado, em que um animal aparentemente realiza uma acção apenas para bem de outro, é o dos afídeos cederem voluntariamente a sua excreção doce às formigas: os factos de seguida apresentados mostram que o fazem voluntariamente.





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