A Origem das Espécies - Cap. 8: CAPÍTULO VII
INSTINTO Pág. 239 / 524

Estava curioso por averiguar se a F. sanguinea conseguia distinguir as pupas da F. fusca, que convertiam habitualmente em escravas, das da pequena e furiosa F. fiava, que raramente capturam, e é evidente que as distinguiram de imediato: pois vimos que capturaram ávida e instantaneamente as pupas da F. fusca, ao passo que ficaram muito aterrorizadas ao deparar-se com as pupas ou mesmo com a terra do ninho da F. fiava, e rapidamente se puseram em fuga; mas em cerca de um quarto de hora, pouco depois de todas as pequenas formigas amarelas terem partido, ganharam coragem e levaram as pupas.

Uma noite, visitei outra comunidade de F. sanguinea e descobri uma série destas formigas a entrar no seu ninho, transportando cadáveres de F. fusca (mostrando que não se tratava de uma migração) e numerosas pupas. Segui a fila que regressava carregada com o saque, aproximadamente 36 metros, até um zona de vegetação muito densa, de onde vi emergir o último indivíduo da F. sanguinea, carregando uma pupa; mas não conseguia encontrar o ninho devastado no espesso matagal. O ninho, todavia, tinha de estar próximo, pois dois ou três indivíduos de F. fusca corriam de um lado para o outro na maior agitação e uma estava empoleirada, imóvel, com a sua própria pupa na boca, em cima de um ramo de urze sobre o seu lar devastado.

São estes os factos, ainda que não precisassem da minha confirmação, a respeito do prodigioso instinto escravizador. Permita-se observar como os hábitos instintivos da F. sanguinea contrastam com os da F. rufescens. A última não constrói o seu próprio ninho, não determina as suas próprias migrações, não recolhe alimento para si própria ou para as suas crias e não consegue mesmo alimentar-se a si própria: é absolutamente dependente das suas numerosas escravas.





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