A Origem das Espécies - Cap. 2: CAPÍTULO I
VARIAÇÃO SOB DOMESTICAÇÃO Pág. 26 / 524

algumas devem ter sido transportadas novamente para a sua região de origem; mas nenhuma alguma vez se tornou selvagem ou bravia, embora o pombo que encontramos nos pombais, que é o pombo comum num estado muito ligeiramente alterado, se tenha tornado bravio em diversos locais. Mais uma vez, toda a experiência recente mostra que é dificílimo fazer qualquer animal selvagem procriar livremente sob domesticação; no entanto, segundo a hipótese da origem múltipla dos nossos pombos, temos de pressupor que pelo menos sete ou oito espécies foram tão perfeitamente domesticadas na antiguidade por homens semicivilizados ao ponto de serem completamente prolíficos em cativeiro.

Um argumento que me parece de grande peso e aplicável numa diversidade de outros casos é o de que as linhagens atrás mencionadas, apesar de geralmente concordarem em constituição, hábitos, voz, cor e na maior parte da sua estrutura com o pombo comum bravio, são sem dúvida muito anómalas noutras partes da sua estrutura: podemos procurar em vão, em toda a grande família dos columbídeos, um bico como o do pombo-correio inglês, do pombo-cambalhota de bico curto, ou do pombo-berbere; penas invertidas como as do jacobino; um papo como o do pombo-de-papo; penas da cauda como as do pombo-de-leque. Temos portanto de pressupor não só que o homem semicivilizado conseguiu domesticar perfeitamente diversas espécies, mas também que intencionalmente ou por acaso seleccionou espécies extraordinariamente anormais; e que, além disso, estas mesmas espécies desde então se extinguiram ou se tornaram desconhecidas. Tantas contingências estranhas parecem-me improváveis ao mais elevado grau.

Alguns factos a respeito da coloração dos pombos são bem merecedores de consideração. O pombo comum





Os capítulos deste livro