A Origem das Espécies - Cap. 2: CAPÍTULO I
VARIAÇÃO SOB DOMESTICAÇÃO Pág. 28 / 524

Ou, em segundo lugar, cada linhagem, inclusive a mais pura, foi no período de uma dúzia ou, no máximo, uma vintena de gerações, cruzada com o pombo comum: digo no período de doze ou vinte gerações, pois desconhecemos qualquer facto que sancione a crença de que a cria reverte sempre a um dado ancestral, afastado por um número maior de gerações. Numa linhagem que foi cruzada apenas uma vez com alguma linhagem distinta, a tendência para reverter a qualquer carácter derivado de tal cruzamento reduzir-se-á naturalmente, cada vez mais, dado que em cada geração subsequente haverá menor quantidade de sangue alienígena; mas quando não houve cruzamento com uma linhagem distinta e há uma tendência em ambos os pais para reverter a um carácter perdido durante uma geração anterior, talvez esta tendência, apesar de tudo o que nos sugere o contrário, seja transmitida intacta durante um número indefinido de . gerações. Estes dois casos distintos são frequentemente confundidos nos tratados sobre a hereditariedade.

Por fim, os híbridos ou mistos de entre todas as linhagens domésticas de pombos são perfeitamente férteis. Posso afirmar isto a partir das minhas próprias observações, intencionalmente feitas com as linhagens mais distintas. É difícil, talvez impossível, apresentar um caso em que os descendentes híbridos de dois animais claramente distintos sejam eles mesmos perfeitamente férteis. Alguns autores acreditam que a domesticação prolongada elimina esta forte tendência para a esterilidade: considerando a história do cão, penso que esta hipótese tem alguma plausibilidade se aplicada a espécies intimamente próximas, embora nenhuma experiência a confirme. Mas alargar a hipótese ao ponto de supor que espécies aboriginalmente tão distintas como são hoje os pombos-correio, os pombos-cambalhota, os pombos-de-papo e os pombos-de-leque gerariam descendentes perfeitamente férteis, inter se, parece-me extremamente ousado.





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