A Origem das Espécies - Cap. 10: CAPÍTULO IX
SOBRE A INPERFEIÇÃO DO REGISTO GEOLÓGICO Pág. 329 / 524

teriam certamente sido preservados e descobertos; e como nem uma espécie foi descoberta em camadas desta época, concluí que este grande grupo se desenvolvera subitamente no início da série terciária. Isto era uma dificuldade espinhosa para mim, acrescentando, segundo me parecia, mais um exemplo do aparecimento abrupto de um grande grupo de espécies. Mas o meu trabalho mal fora publicado, quando um competente paleontólogo, o Sr. Bosquet, me enviou um desenho de um espécime perfeito de um inconfundível cirrípede séssil, que ele próprio extraíra do Cretácico da Bélgica. E como que para tornar o caso tão impressionante quanto possível, este cirrípede séssil era um Chthamalus, um género muito comum, vasto e ubíquo, do qual nem um só espécime foi até hoje encontrado, mesmo em qualquer estrato terciário. Por esta razão sabemos hoje que inquestionavelmente existiram cirrípedes sésseis durante o período secundário; e estes cirrípedes podem ter sido os progenitores das nossas muitas espécies terciárias e existentes.

O caso de aparecimento súbito de um grupo inteiro de espécies em que os nossos paleontólogos mais frequentemente insistem é o dos peixes teleósteos, nas profundezas do período Cretácico. Este grupo inclui a grande maioria das espécies existentes. Recentemente, o Professor Pictet fez remontar mais um subestágio à existência daqueles; e alguns paleontólogos crêem que determinados peixes muito mais antigos, cujas afinidades são até hoje imperfeitamente conhecidas, são na verdade teleósteos. Pressupondo, todavia, que todos apareceram, como crê Agassiz, no início da formação cretácica, o facto seria certamente muito notável; mas não vejo que fosse uma dificuldade insuperável para a minha teoria, a menos que se pudesse também mostrar que as espécies deste grupo apareceram súbita e simultaneamente em todo o mundo neste mesmo período.





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