A Origem das Espécies - Cap. 2: CAPÍTULO I
VARIAÇÃO SOB DOMESTICAÇÃO Pág. 33 / 524

para outra finalidade; quando comparamos as muitas linhagens de cães, cada qual benéfica para o homem de diferentes maneiras; quando comparamos o galo de luta, tão pertinaz no combate, com outras linhagens tão pouco conflituosas, com «poedeiras perpétuas» que nunca desejam empoleirar-se, e com a galinha-de-bantam, tão pequena e elegante; quando comparamos a multidão de variedades de plantas agrícolas, culinárias, pomareiras e flores de jardim, utilíssimas ao homem em diferentes estações e para diferentes finalidades, ou tão belas aos seus olhos, creio que temos de observar algo mais do que mera variabilidade.

*À letra: «vira-espeto». Em Inglaterra, desde o final do século XVI (a mais antiga referência conhecida ao turnspit é de 1576) até ao século XIX, estes cães, de pernas curtas e robustas e corpo comprido, eram especialmente criados para o trabalho nas cozinhas, onde os colocavam numa roda giratória, dentro de uma gaiola, ligada ao espeto, de maneira a mantê-lo em rotação contínua com o esforço do animal. [N.T.]

Não podemos pressupor que todas as linhagens foram subitamente produzidas tão perfeitas e úteis como hoje as vemos; na verdade, em muitos casos, sabemos que a sua história não foi assim. A chave é o poder humano da selecção cumulativa: a natureza oferece variações sucessivas; o homem acumula-as numa certa direcção que lhe é útil. Neste sentido, pode-se afirmar que o homem faz linhagens úteis para si próprio.

O grande poder deste princípio da selecção não é hipotético. É certo que muitos dos nossos ilustres criadores, mesmo no período de uma única vida, modificaram em grande medida algumas linhagens de gado bovino e carneiros. Para compreender completamente o que eles fizeram, é quase necessário ler uma grande parte dos muitos tratados dedicados a este assunto e inspeccionar os animais.





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