A Origem das Espécies - Cap. 10: CAPÍTULO IX
SOBRE A INPERFEIÇÃO DO REGISTO GEOLÓGICO Pág. 330 / 524

É quase supérfluo observar que dificilmente se conhece qualquer peixe fóssil a sul do Equador; e, passando os olhos pela Paleontologia de Pictet, ver-se-á que são conhecidas pouquíssimas espécies a partir de diversas formações na Europa. Algumas poucas famílias de peixes têm hoje uma distribuição restrita; o peixe teleósteo pode ter tido uma distribuição analogamente restrita, e depois de se ter desenvolvido muito num determinado mar, pode ter-se propagado amplamente. Tão-pouco podemos supor que os mares do mundo foram sempre tão livremente abertos de sul a norte como o são hoje. Mesmo hoje em dia, se o arquipélago malaio se convertesse em terra, as partes tropicais do Oceano índico formariam uma grande bacia perfeitamente fechada, onde qualquer grande grupo de animais marinhos se poderia multiplicar; e aqui permaneceriam confinados, até que algumas das espécies se adaptassem a um clima mais frio e se tornassem capazes de dobrar os cabos meridionais da África ou Austrália, e assim alcançar outros mares distantes.

A partir destas considerações e outras similares, mas sobretudo pelo que ignoramos da geologia de outros países além dos limites da Europa e dos Estados Unidos; e pela revolução nas nossas ideias paleontológicas em muitos aspectos, que mesmo as descobertas dos últimos 12 anos efectuaram, parece-me tão impetuoso dogmatizarmos sobre a sucessão dos seres orgânicos em todo o mundo, como seria um naturalista que desembarcasse durante cinco minutos num local árido na Austrália e passasse a discutir o número e distribuição das suas produções.

Sobre o aparecimento súbito de grupos de espécies próximas nos mais baixos estratos fossilíferos conhecidos. - Há outra dificuldade associada, que é muito mais grave. Aludo à maneira como diversas espécies do mesmo grupo aparecem subitamente nas mais baixas rochas fossilíferas conhecidas.





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