A Origem das Espécies - Cap. 2: CAPÍTULO I
VARIAÇÃO SOB DOMESTICAÇÃO Pág. 37 / 524

mais do que três quartos de século; foi seguramente um maior alvo de atenção nos últimos anos, tendo-se publicado muitos tratados sobre o assunto; e posso acrescentar que o resultado tem correspondido em rapidez e relevância. Mas a ideia de que este princípio é uma descoberta moderna está muito longe da verdade. Poderia dar diversas referências de que a importância deste princípio foi plenamente reconhecida em obras da alta antiguidade. Nos períodos primitivos e bárbaros da história inglesa, os animais de qualidade superior eram frequentemente importados, e promulgava-se leis para impedir a sua exportação: foi ordenada a destruição de cavalos abaixo de um certo tamanho, o que pode ser comparado à «monda» das plantas pelos viveiristas. Encontrei uma exposição clara do princípio de selecção numa antiga enciclopédia chinesa. Algumas regras explícitas foram formuladas por autores clássicos romanos. Algumas passagens do Génesis deixam claro que nessa época primitiva a cor dos animais domésticos era objecto de atenção. Os selvagens hoje cruzam por vezes os seus cães com canídeos selvagens, para melhorar a linhagem, e faziam-no antes, como algumas passagens de Plínio atestam. Os selvagens na África do Sul emparelham os animais de tiro segundo a cor, como alguns esquimós fazem com as suas parelhas de cães. Livingstone mostra o quanto as boas linhagens domésticas são valorizadas pelos negros do interior de África que não se associaram aos europeus. Embora alguns destes factos não indiciem selecção efectiva, mostram que na antiguidade se dedicou uma atenção diligente à criação de animais domésticos, e esta é hoje em dia objecto de atenção por parte dos selvagens mais atrasados. Teria na verdade sido muito estranho se a criação não tivesse sido objecto de atenção, tendo em conta que a influência das boas e más qualidades é tão óbvia.




Os capítulos deste livro