A Origem das Espécies - Cap. 2: CAPÍTULO I
VARIAÇÃO SOB DOMESTICAÇÃO Pág. 41 / 524

de primeira qualidade a partir da semente da pêra brava, embora pudesse conseguir com uma planta jovem, de qualidade inferior, que crescesse em estado selvagem, se fosse oriunda de uma casta de jardim. A pêra, embora cultivada na época clássica, era, ao que parece, segundo a descrição de Plínio, um fruto de qualidade muito inferior. Vi exprimir em obras sobre horticultura grande surpresa perante a maravilhosa aptidão dos jardineiros, por terem produzido resultados tão esplêndidos a partir de materiais tão pobres; mas não posso duvidar de que a arte tem sido simples e, no que diz respeito ao resultado final, tem sido aplicada quase inconscientemente. Tem consistido em cultivar sempre a melhor variedade conhecida, deitando à terra as suas sementes, e em seleccionar, quando ocorre, uma variedade ligeiramente melhor, e assim sucessivamente. Mas os jardineiros do período clássico, que cultivaram a melhor pereira que podiam obter, nunca imaginaram que fruto esplêndido haveríamos de comer; embora devamos o nosso excelente fruto, até certo ponto, ao facto de eles terem naturalmente escolhido e preservado as melhores variedades que conseguiam encontrar em qualquer local.

Uma grande quantidade de mudança nas nossas plantas de cultivo, assim acumulada lenta e inconscientemente, explica, segundo creio, o bem conhecido facto de que num vasto número de casos não temos como reconhecer e, portanto, não podemos conhecer as castas antecessoras selvagens das plantas que durante mais tempo foram cultivadas nos nossos jardins e hortas. Se demorou séculos ou milhares de anos para aperfeiçoar ou modificar a maior parte das nossas plantas, até alcançarem o actual padrão de utilidade para o homem, podemos compreender por que razão nem a Austrália, nem o Cabo da Boa Esperança, nem qualquer outra região habitada por homens completamente incivilizados nos deu uma única planta digna de cultivo.





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