A Origem das Espécies - Cap. 2: CAPÍTULO I
VARIAÇÃO SOB DOMESTICAÇÃO Pág. 42 / 524

Não se trata de estas regiões, tão ricas em espécies, não terem, por um estranho acaso, as castas aborígenes de quaisquer plantas úteis, mas de as plantas nativas não terem sido aperfeiçoadas por selecção contínua até alcançarem um padrão de perfeição comparável ao que se deu às plantas em regiões civilizadas desde a antiguidade.

No que se refere aos animais domésticos mantidos por homens incivilizados, há que não ignorar que estes quase sempre têm de lutar pela própria comida, pelo menos em épocas determinadas. E em duas regiões com circunstâncias muito diferentes, indivíduos da mesma espécie com constituição ou estrutura ligeiramente diferentes, seria comum darem-se melhor numa região do que noutra, e assim, por um processo de «selecção natural», como mais tarde se explicará de uma maneira mais completa, podem-se formar duas sub-linhagens. Talvez isto explique, em parte, as observações de alguns autores, nomeadamente, a de que as variedades mantidas pelos selvagens têm mais do carácter de espécies do que as variedades mantidas em países civilizados.

Na perspectiva aqui apresentada do importantíssimo papel desempenhado pela selecção humana, torna-se imediatamente óbvio como as nossas raças domésticas vêm a exibir adaptação, na sua estrutura ou hábitos, às necessidades ou caprichos do homem. Creio que podemos compreender melhor o carácter frequentemente anormal das nossas raças domésticas, e também a enorme diferença nos seus caracteres externos e a relativa ligeireza das suas diferenças nas partes ou órgãos internos. O homem dificilmente consegue seleccionar, ou não sem muita dificuldade, qualquer desvio de estrutura que não seja exteriormente visível; e na verdade raramente se preocupa com os aspectos internos. O homem nunca pode agir selectivamente, excepto sobre ligeiras variações que a natureza lhe proporciona de antemão.





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