A Origem das Espécies - Cap. 2: CAPÍTULO I
VARIAÇÃO SOB DOMESTICAÇÃO Pág. 46 / 524

Vi comentar solenemente que foi uma grande sorte o morangueiro começar a variar precisamente quando os jardineiros começaram a tratar desta planta com muita atenção. Sem dúvida que o morangueiro sempre variou desde que foi cultivado, mas as ligeiras variedades tinham sido descuradas. Todavia, assim que os jardineiros seleccionaram plantas individuais com frutos ligeiramente maiores, temporãos, ou melhores, criando plantas a partir da semente destas, seleccionando mais uma vez as melhores plantas jovens para as reproduzir, então surgiram (com a ajuda de um cruzamento com espécies distintas) as muito admiráveis variedades de morangueiro que se tem cultivado nos últimos trinta ou quarenta anos.

No caso dos animais com sexos distintos, a facilidade de impedir cruzamentos é um importante elemento de sucesso na formação de novas variedades - pelo menos, numa região que já possui outras variedades. Neste aspecto, o isolamento territorial desempenha o seu papel. Os selvagens nómadas ou os habitantes de planícies abertas raramente têm mais do que uma linhagem da mesma espécie. Pode-se acasalar os pombos para toda a vida, o que é muito útil ao criador, pois desta maneira se pode manter a pureza de muitas variedades, ainda que misturadas no mesmo aviário; e esta circunstância deve ter favorecido muito o aperfeiçoamento e a formação de novas linhagens. Posso acrescentar que os pombos se podem propagar em grande número e a um ritmo muito veloz, e as aves inferiores podem ser rejeitadas à vontade, pois servem de alimento quando mortas. Por outro lado, devido aos seus hábitos noctívagos, não se pode emparelhar os gatos, e embora sejam muito valorizados pelas mulheres e crianças, raramente vemos uma linhagem distinta que se mantenha; as linhagens que por vezes observamos são quase sempre importadas de outro país, frequentemente de ilhas.





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