A Origem das Espécies - Cap. 15: CAPÍTULO XIV
RECAPITULAÇÃO E CONCLUSÃO Pág. 523 / 524

Como todas as formas de vida do presente são descendentes directos das que viveram muito antes da época siluriana, podemos estar certos de que a sucessão ordinária por geração nunca foi interrompida uma só vez, e que nenhum cataclismo desolou o mundo inteiro. Podemos, portanto, olhar com alguma confiança para um futuro seguro, de duração igualmente inabarcável. E como a selecção natural age unicamente através e em função do bem de cada ser, todos os atributos corpóreos e mentais tenderão a progredir para a perfeição.

É interessante contemplar a vegetação densa de uma margem, revestida com muitas plantas de muitos tipos, aves que cantam nos arbustos, vários insectos que esvoaçam em volta, vermes que rastejam pela terra húmida, e reflectir no facto de estas formas sofisticadas, tão complexamente diferentes e dependentes entre si, terem todas sido produzidas por leis que agem à nossa volta. Estas leis, tomadas no sentido mais lato, sendo as do crescimento com reprodução; hereditariedade, quase implícita na reprodução; a variabilidade pela acção indirecta e directa das condições externas de vida, e pelo uso e desuso; um ritmo de crescimento numérico tão intenso ao ponto de conduzir a uma luta pela vida e, consequentemente, à selecção natural, a qual implica a divergência de carácter e a extinção das formas menos aperfeiçoadas. Assim, da guerra da natureza, da fome e da morte, resulta directamente o mais exaltado objecto que somos capazes de conceber, isto é, a produção dos animais superiores. Há grandiosidade nesta perspectiva de a vida, com os seus diversos poderes, ter sido originalmente insuflada em algumas formas de vida ou numa só; e de, enquanto este planeta continua a girar segundo a lei fixa da gravidade, a partir de um começo tão simples, terem evoluído e continuado a evoluir intermináveis formas belíssimas e absolutamente prodigiosas.





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