A Origem das Espécies - Cap. 3: CAPÍTULO II
VARIAÇÃO EM ESTADO DE NATUREZA Pág. 58 / 524

Portanto, creio que uma variedade bem marcada pode ser apropriadamente designada como «espécie incipiente»; mas a questão de esta crença ser ou não justificável tem de ser julgada pelo peso geral dos diversos factos e perspectivas apresentados ao longo desta obra.

Não é preciso supor que todas as variedades ou espécies incipientes alcançam necessariamente a categoria de espécies. Podem extinguir-se quando ainda se encontram neste estado incipiente, ou podem persistir como variedades durante períodos muito longos, como o Sr. Wollaston mostrou que aconteceu com as variedades de certos moluscos terrestres fósseis na Madeira. Se uma variedade prosperasse ao ponto de exceder numericamente a espécie antecessora, seria então classificada como a espécie e a espécie como a variedade; ou poderia acabar por suplantar e exterminar a espécie antecessora; ou ambas poderiam coexistir e serem classificadas como espécies independentes. Mas teremos de regressar a este assunto mais tarde.

A partir destas observações ver-se-á que considero o termo «espécie» como um termo aplicado arbitrariamente, em função da conveniência, a um conjunto de indivíduos intimamente semelhantes, que não difere essencialmente do termo «variedade», que se aplica a formas menos distintas e mais efémeras. O termo «variedade», mais uma vez, em comparação com as meras diferenças individuais, é também aplicado arbitrariamente e em função da mera conveniência.

Orientado por considerações teóricas, pensei que se pudesse obter alguns resultados interessantes no que diz respeito à natureza e relações das espécies que mais variam, catalogando todas as variedades em diversas floras bem desenvolvidas. A princípio parecia uma tarefa simples; mas o Sr.H.C. Watson, a quem muito devo pelos valiosos conselhos e assistência que me prestou nesta matéria, cedo me convenceu de que havia muitas dificuldades, como fez subsequentemente o Dr.





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