A Origem das Espécies - Cap. 5: CAPÍTULO IV
SELECÇÃO NATURAL Pág. 93 / 524

do tempo assinale a lenta passagem das épocas, e tão imperfeita é a visão que temos das longas eras geológicas do passado que apenas constatamos que as formas de vida hoje são diferentes do que eram antes.

Embora a selecção natural só possa agir por meio e em função do bem de cada ser, os caracteres e estruturas que tendemos a considerar menos importantes podem nessa medida ser objecto de acção. Quando vemos insectos folívoros verdes e animais pintalgados de cinzento que se alimentam da casca das árvores, o lagópode branco alpino, no Inverno, o lagópode escocês, da cor da urze, e o galo-lira, cuja coloração é semelhante à do solo rico em turfa, temos de acreditar que tais matizes são úteis a estas aves e insectos para os salvaguardar do perigo. Se num dado período das suas vidas não fossem destruídos, os lagópodes multiplicar-se-iam desmesuradamente; sabe-se que sofrem sobretudo com as aves de rapina; e os falcões orientam-se para a presa através da visão - de tal modo que em algumas partes do continente se avisa as pessoas para não terem pombos brancos, por serem os mais sujeitos à destruição. Pelo que não vejo razão para duvidar de que a selecção natural possa ser extremamente eficaz ao dar a cor apropriada a cada tipo de lagópode e ao manter essa cor, uma vez adquirida, pura e constante. Tão-pouco devemos pensar que a destruição ocasional de um animal de qualquer cor particular teria um efeito menor: há que recordar como é essencial num rebanho de ovelhas brancas destruir cada cordeiro que tenha o mais leve vestígio de preto. Nas plantas, a lanugem no fruto e a cor da polpa são consideradas pelos botânicos caracteres pouquíssimo importantes: porém, Downing, um excelente horticultor, informa-nos de que nos Estados Unidos os frutos





Os capítulos deste livro