Inferno - Cap. 16: Capítulo 16 Pág. 48 / 102

Eu segui-o e pouco havíamos andado quando sentimos tão perto o som da água que, a falarmos, mal seríamos ouvidos. Como aquele rio que o próprio curso segue primeiro do monte Viso para Levantes, pela vertente esquerda do Apenino, e mais abarco Acquaqueta se chama, antes de se despenhar no leito barão e esse nome perder em Forli, sobre San Benedetto dos Alpes, para cair troando por uma cascata onde milhares de pessoas poderiam abrigar-se', assim junto a uma rocha escarpada se nos deparou o ressoar da água tingida, tal que em pouco tempo me teria ferido os ouvidos.

Eu levava uma corda apertada à cinturas, com a qual pensara em tempo prender a pantera da pintalgada pele. Depois de me livrar completamente dela, como o meu guia me ordenara, entreguei-lha enrolada e colhida. Nesse momento, ele volveu à direita e, muito longe da margem, soltou-a no profundo abismo. «Urge agora que algo de novo apareça», dizia de mim para mim, «que responda ao novo sinal que o mestre assim segue com a vista.» Ah, como devem ser cautos os homens junto daqueles que não veem apenas as próprias acções, mas também no interior do pensamento com o espírito observam! Ele disse: «Em breve virá do alto o que aguardo e com que a tua mente sonha, pois é mister que aos teus olhos se descubra.»

Sempre que de mentira a verdade tenha aspecto, deve o homem até poder cerrar os lábios, para que, sem culpa ter, não haja de que se envergonhar. Mas aqui não posso calar-me; e, pelos versas desta comédias te juro, leitor, e assim possam eles ser dignos de longo favor, que vi por aquele ar espesso e negro vir nadando uma figura lá no alto, decerto espantosa mesmo pata o mais firme dos animas, tal como volta aquele que mergulha, talvez para desprender a ancora, presa num escolho ou noutra coisa sob o mar oculta, que estende os braços enquanto os pés encolhe.





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