Ó Simão mago! Ó miseráveis sequazes seus, que as coisas de Deus, que à bondade devem ser sempre ligadas, prostituis rapacemente em troca de ouro e prata! Mister é que para vós agora a tromba soe, pois que no terceiro fosso estais.
Estávamos já no fosso seguinte, trepados naquela parte do rochedo que exactamente sobre o centro se suspende. Ó suma sapiência! Quanta arte no Céu, na Terra e no mundo maldito tu revelas e como é justa a repartição da tua virtude! Pelos lados e também pelo fundo, vi cheia a pedra lívida de buracos, todos redondos e de igual tamanho. Mais pequenas nem maiores me pareciam que aqueles que há na minha bela San Giovanni, feitos para lugar dos baptizantes, um dos quais, não há ainda muitos anos, quebrei para salvar um que lá dentro se afogava, e sirva isto para desenganar a quem outra coisa pensasses.
Fora da abertura de cada um saiam de um pecador os pés e as pernas até à coxa e o resto estava dentro. As plantas dos pés ardiam ambas, e por isso com tal forca agitavam as junturas que cordas e nós teriam espedaçado. Como costuma o flamejar do que é untado correr pela superfície, assim ali sucedia, dos calcanhares até às pontas. «Quem é aquele, mestre, que mais violentamente do que os seus companheiros assim se agita irado e ao qual uma chama mais rubra consome?», perguntei. E ele respondeu: «Se queres que ali abaixo te conduza, por aquela margem mais ao fundo, dele saberás quem é e quais os seus Recados.» E eu: «Apraz-me tudo quanto a ti agrade: és tu que mandas, e sabes que da vontade tua não me afasto, como sabes mesmo o que não chega a ser dito.»