Inferno - Cap. 26: Capítulo 26 Pág. 78 / 102

Lancei-me, assim, ao largo mar, sozinho com um barco e os poucos companheiros que jamais me abandonaram. Uma e outra margem vi, até à Espanha e até Marrocos, e a ilha da Sardenha e as demais que o mar em redor banha. Os meus companheiros, como eu, estavam velhos e cansados quando chegámos àquela estreita foz onde Hércules plantou os seus sinais para que o homem não pudesse ir mais além. Deixei Sevilha à minha direita e à outra mão tinha já deixado Ceuta 'O irmãos!, disse, 'que através de cem mil riscos haveis chegado ao Ocidente! Não queirais negar a experiência a esta tão curta jornada que nos resta aos sentidos de seguir atrás do Sol até ao mundo inabitado. Considerai a vossa natureza: não fostes feitos para viver como os brutos, mas para a virtude e o conhecimento alcançar.' Nos meus companheiros despertei tal ânsia de ao caminho se lançarem com este breve discurso, que mal teria podido retê-los; assim, voltando a popa ao nascente, dos remos fizemos asas para o louco voo, dirigindo-nos sempre para a esquerda. Via já todas as estrelas do outro pólo à noite e o nosso tão baixo ficava que não alcançava sobre o nível das ondas ficar. Cinco vezes se acendera e outras tantas se apagara a luz da Lua desde que iniciáramos a longa rota, quando nos surgiu um monte, escuro por causa da distancia e que me pareceu tão alto como outro jamais vira. Com isso nos alegramos, mas cedo em pranto se tornou a nossa alegria, pois da nova terra brotou um torvelinho que embateu na proa do barco e três vezes o fez rodar com a água imensa, e à quarta levantar a popa ao alto, enquanto a proa se afundava, como outrem quis, até que o mar sobre nós se fechou.»





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