- Que importa? - indagou, impaciente. - É sempre uma horrível guerra depois da outra, e a gente sabe que o noticiário é todo falso mesmo.
Às vezes ele lhe falava do Departamento de Registro e das impudentes falsificações que lá executava. Essas coisas não pareciam horrorizá-la. Não sentia o abismo abrindo-se aos seus pés, ao pensar nas mentiras que se transformavam em verdades. Ele contou-lhe a história de Jones, Aaronson e Rutherford, e do momentoso papelzinho que um dia tivera entre os dedos. Não a impressionou grandemente. Na verdade, a princípio, ela nem compreendeu a situação.
- Eram teus amigos?
- Não, nunca os conheci. Eram membros do Partido Interno. Além disso, eram muito mais velhos do que eu. Pertenciam ao passado, vinham de antes da Revolução. Eu mal os conhecia de vista.
- Então por que te preocupas? Não vivem matando gente o tempo todo?
Tentou fazê-la compreender.