Madame Bovary - Cap. 12: III Pág. 101 / 382

Mas a velha Bovary protestou energicamente contra esse nome de pecadora. O Sr. Homais, por seu lado, tinha predilecção por todos os nomes que lembrassem personagens importantes, feitos ilustres ou concepções generosas, e dentro desse sistema baptizara os seus quatro filhos. Assim, Napoléon representava a glória e Franklin a liberdade; Irmã fora, talvez, uma concessão ao romantismo, mas Athalie representava uma homenagem a mais célebre obra-prima do teatro francês. Porque as suas convicções filosóficas não prejudicavam as suas apreciações artísticas; nele, o pensador não suprimia o homem sensível; sabia estabelecer as diferenças, separar a imaginação do fanatismo. Daquela tragédia, por exemplo, condenava as ideias mas admirava o estilo; detestava-lhe a concepção, mas aplaudia-lhe todos os pormenores; exasperava-se contra as personagens e entusiasmava-se com os discursos delas. Quando lia trechos escolhidos, sentia-se arrebatado; mas, se pensava que os padrecas os exploravam para proveito próprio, ficava desolado e, nesta confusão de sentimentos que o embaraçava, desejaria poder coroar Racine com ambas as mãos e, ao mesmo tempo, discutir com ele por um bom quarto de hora.

Finalmente, Emma recordou-se de ter ouvido a marquesa, no palácio de Vaubyessard, chamar Berthe a uma jovem; a partir de então ficou escolhido esse nome e, como o Tio Rouault não podia vir, o Sr. Homais foi convidado para padrinho. Deu uma prenda toda composta de produtos

- É uma menina! - disse Charles. Emma voltou a cabeça e desmaiou.

Quase no mesmo instante acorreu a Se Homais e beijou-a, bem como a velha Lefrançois, do Leão de Ouro. O farmacêutico, como homem discreto, apenas lhe dirigiu algumas felicitações provisórias pela porta entreaberta.





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