Madame Bovary - Cap. 12: III Pág. 102 / 382

Quis ver a criança e achou-a bem constituída.

Durante a convalescença, Emma preocupou-se muito com a escolha de um nome para a filha. Em primeiro lugar, passou em revista todos os que tinham terminações italianas, como Clara, Louisa, Amanda, Atala; gostava bastante de Galsuinde, e ainda mais de Yseult ou Léocadie. Charles queria que pusessem a criança o nome da avó; Emma opôs-se a isso. Percorreram o calendário de ponta a ponta e consultaram até os estrangeiros.

- O Sr. Léon - dizia o farmacêutico -, com quem eu falei a esse propósito no outro dia, admira-se de que não escolham Madeleine, nome que está actualmente muito na moda.

Mas a velha Bovary protestou energicamente contra esse nome de pecadora. O Sr. Homais, por seu lado, tinha predilecção por todos os nomes que lembrassem personagens importantes, feitos ilustres ou concepções generosas, e dentro desse sistema baptizara os seus quatro filhos. Assim; Napoléon representava a glória e Franklin a liberdade; Irma fora, talvez, uma concessão ao romantismo, mas Athalie representava uma homenagem a mais célebre obra-prima do teatro francês. Porque as suas convicções filosóficas não prejudicavam as suas apreciações artísticas; nele, o pensador não suprimia o homem sensível; sabia estabelecer as diferenças, separar a imaginação do fanatismo. Daquela tragédia, por exemplo, condenava as ideias, mas admirava o estilo; detestava-lhe a concepção, mas aplaudia-lhe todos os pormenores; exasperava-se contra as personagens e entusiasmava-se com os discursos delas. Quando lia trechos escolhidos, sentia-se arrebatado; mas, se pensava que os padrecas os exploravam para proveito próprio, ficava desolado e, nesta confusão de sentimentos que o embaraçava, desejaria poder coroar Racine com ambas as mãos e, ao mesmo tempo, discutir com ele por um bom quarto de hora.





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