Madame Bovary - Cap. 12: III Pág. 104 / 382

Esta não desgostava da sua companhia. Ele havia corrido o mundo; falava de Berlim, de Viena, de Estrasburgo, do seu tempo de oficial, das amantes que tivera, dos grandes almoços que dera; além disso, mostrava-se amável e até, às vezes, quer fosse na escada quer no jardim, a abraçava pela cintura, exclamando:

- Charles, toma cuidado contigo!

Então, a velha Bovary afligiu-se pela felicidade do filho e, temendo que o marido, com a continuação, viesse a exercer uma influência imoral sobre as ideias da nora, tratou de apressar a partida. Talvez tivesse ainda preocupações mais sérias. Bovary era homem para não ter respeito a nada.

Um dia, Emma sentiu repentinamente o desejo de ver a sua filhinha, que havia sido entregue à ama, a mulher do marceneiro; e, sem ver no almanaque se as seis semanas da Virgem já tinham passado, pôs-se a caminha da casa de Rolet, que ficava no extremo da aldeia, ao fundo da encosta, entre a estrada larga e os prados.

Era meio-dia; as casas tinham as persianas fechadas e os tectos de ardósia, que reluziam à luz intensa do céu azul, pareciam soltar faíscas pelas arestas dos beirais. Soprava um vento pesado. Emma sentia-se fraca enquanto caminhava; as pedras do ladrilho magoavam-na; hesitou entre voltar para casa e entrar em qualquer parte para se sentar.

Nesse momento saiu Léon duma porta próxima com um rolo de papéis debaixo do braço. Veio cumprimentá-la e abrigou-se à sombra do toldo cinzento, aberto na frente da loja de Lheureux.

A Sr Bovary explicou que ia ver o seu bebé, mas que já estava a sentir-se cansada.

- Se... - avançou Léon, não se atrevendo a prosseguir.

- Tem de ir a algum lado? - perguntou ela.

E, ouvindo a resposta do escriturário, pediu-lhe que a acompanhasse.





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