Madame Bovary - Cap. 12: III Pág. 105 / 382

Logo naquela noite se tornou conhecido o acontecimento em Yonville e a Sr, Tuvache, mulher do presidente da Câmara, declarou diante da criada que a Sr: Bovary se estava a comprometer.

Para chegar a casa da ama era necessário, no fim da rua, voltar à esquerda, como para ir ao cemitério, e seguir, entre casinhotas e pátios, um estreito caminho ladeado por alfenas. Estas estavam floridas, e também as verónicas, as roseiras bravas, as urtigas e as silvas que saíam do meio dos arbustos. Pelas aberturas dos tapumes avistava-se, nos pardieiros, algum porco fossando o esterco, ou algumas vacas amarradas, esfregando os cornos nos troncos das árvores. Iam os dois caminhando lentamente, lado a lado, Emma apoiando-se nele e fazendo-o atrasar o passo, que ele media pelo dela; diante de ambos rodopiava um enxame de moscas, zumbindo no ar quente.

Reconheceram a casa por uma velha nogueira que lhe fazia sombra.

Baixa e coberta de telhas escuras, tinha pendurada no exterior, por baixo da lucarna do sótão, uma grande réstia de cebolas. Molhos de lenha, empilhados contra a vedação de espinheiro, protegiam um canteiro de alfaces, alguns pés de alfazema e ervilhas-de-cheiro apoiados em estacas. Havia água suja a correr, encharcando a erva, e, pendurados a toda a volta, vários trapos indistintos, meias de lã, uma camisola de chita vermelha e um grande cobertor de estopa estendido ao longo da sebe. Ouvindo o barulho da cancela, a ama apareceu, trazendo no braço uma criança a mamar. Com a outra mão arrastava um pobre garoto enfezado, coberto de escrófulas, filho do chapeleiro de Ruão, que, demasiado ocupado com a mulher no seu negócio, o deixava no campo.

- Entre - disse ela. - A sua menina está ali a dormir.

O quarto, no rés-do-chão, o único da casa, tinha ao fundo, encostado à parede, um grande leito sem cortinas, enquanto a masseira ocupava o lado da janela, onde havia um vidro consertado com uma rodela de papel azul.





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