Madame Bovary - Cap. 13: IV Pág. 115 / 382

Emma mandou adaptar ao caixilho da janela uma prateleira com balaúszres, para pôr os seus vasinhos. O escriturário teve também o seu jardim suspenso; avistavam-se um ao outro, cuidando das plantas às respectivas janelas.

De todas as janelas da vila, havia uma ainda mais vezes ocupada; pois, ao domingo, de manhã até à noite, e todas as tardes, se o tempo estivesse claro, via-se na lucarna de um sótão o perfil magro do Sr. Binet debruçado s bre o seu torno, cujo ruído monótono se ouvia até ao Leão de Ouro.

Uma noite, ao voltar para casa, Léon encontrou no seu quarto um tapete de lã e veludo, com um desenho de folhagens sobre fundo claro; chamou a dona da casa, o Sr. Hornais, justin, as crianças, a cozinheira, e falou no assunto até ao patrão. Toda a gente quis conhecer o tapete; mas por que razão teria a mulher do médico amabilidades para com o escriturário? A coisa pareceu esquisita e concluiu-se, definitivamente, que deviam estar apaixonados um pelo outro.

Ele dava-o a entender pela maneira como falava constantemente dos encantos e da inteligência de Emma, de tal modo que uma vez Binet lhe respondeu com brutalidade:

- Que me importa isso a mim, se não faço parte lá da sociedade dela! Léon torturava-se para descobrir a maneira de lhe fazer a declaração; e, hesitando sempre entre o medo de lhe desagradar e a vergonha se ser tão pusilânime, chorava de desânimo e de desejo ao mesmo tempo. Depois tomava decisões enérgicas; escrevia cartas que rasgava em seguida, marcava datas que depois protelava. Muitas vezes, metia-se a caminho com o projecto de se atrever a tudo; mas depressa abandonava a resolução na presença de Emma e, quando Charles, ao chegar, o convidava a subir para a carruagem e ir com ele ver algum doente nos arredores, aceitava imediatamente, despedia-se de Emma e partia.





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