Madame Bovary - Cap. 14: VI Pág. 132 / 382

Charles garantiu-Ihe que não era nada de grave e foi buscar um emplastro.

A Sr. Bovary não desceu à sala e quis ficar sozinha a tomar conta da filha. Depois, contemplando-a a dormir, o que lhe restava de preocupação dissipou-se gradualmente e viu-se aos seus próprios olhos bem parva e tola por se ter momentos antes inquietado por tão pouca coisa. Berthe, efectivamente, já não soluçava. A sua respiração fazia agora levantar insensivelmente o cobertor de algodão. Tinham-lhe ficado aos cantos dos olhos umas grandes lágrimas e as pálpebras semicerradas deixavam ver, por entre as pestanas, duas pupilas pálidas, encovadas; o adesivo, colado na face, repuxava-lhe obliquamente a pele esticada.

«É uma coisa estranha», pensava Emma, «como esta criança é feia!» Quando Charles, às onze horas da noite, voltou da farmácia (onde, depois do jantar, fora entregar o resto do emplastro), encontrou a mulher ao pé do berço.

- Uma vez que eu já te disse que não vai ser nada - disse-lhe ele, beijando-a na testa -, não te aflijas, minha querida, senão ficas doente!

Ele demorara-se bastante em casa do boticário. Embora não se tivesse mostrado ali muito emocionado, o Sr. Homais fizera o possível por animá-lo, levantar-lhe o moral. Tinham então falado de diversos perigos que ameaçam as crianças e do descuido dos criados. A Sr. Homais bem o sabia, pois conservava ainda no peito as marcas duma porção de brasas que uma cozinheira, certa vez, lhe deixara cair em cima do bibe. Por isso, aqueles exemplares tomavam uma quantidade de precauções. As facas nunca estavam afiadas, nem os quartos encerados. Nas janelas tinham redes de arame e umas fortes barras fixas nos alizares. Os pequenos Homais, apesar da sua independência, não se podiam mexer sem alguém a vigiá-los; menor constipação, o pai enchia-os de remédios peitorais, e até depois dos quatro anos usavam todos, implacavelmente, bonés enchumaçados.





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