Madame Bovary - Cap. 14: VI Pág. 135 / 382

Ela consentiu.

Não se precipitou. Todos os dias, durante um mês inteiro, Hivert lhe foi transportando, de Yonville para Ruão e de Ruão para Yonville, caixas, malas, pacotes; e, depois de ter acrescentado o seu guarda-roupa, mandado estofar de novo as suas três poltronas, comprado um fornecimento de lenços, em resumo, depois de ter tomado mais disposições de que seria necessário para uma viagem à volta do mundo, foi adiando a partida de semana para semana, até que recebeu uma segunda carta da mãe, em que esta lhe dizia que se apressasse a partir, visto que desejava fazer o seu exame antes de férias.

Quando chegou o momento dos abraços, a Sr." Homais chorou; Justin soluçava; Homais, fazendo-se forte, dissimulava a emoção; quis ser ele próprio a levar o paletó do amigo até à porta do notário, que o levaria a Ruão na sua carruagem. A Léon restava apenas o tempo necessário para se despedir do Dr. Bovary.

Quando chegou ao cimo da escada, parou, de tal maneira lhe faltava o fôlego. Logo que entrou, a Srª Bovary levantou-se.

- Sou eu mais uma vez! - disse Léon.

- Eu tinha a certeza!

Emma mordeu os lábios e o sangue afluiu-lhe à pele do rosto, fazendo-a corar desde a raiz dos cabelos até à orla da gola. Deixou-se ficar de pé, com o ombro encostado a uma ombreira.

- O doutor então não está? - prosseguiu ele.

- Está ausente.

E repetiu:

- Está ausente.

Houve um momento de silêncio. Olharam um para o outro; e os seus pensamentos, confundidos na mesma angústia, abraçavam-se estreitamente, como dois peitos palpitantes.

- Gostava de beijar Berthe - disse Léon.

Emma desceu alguns degraus e chamou Félicité.

Ele olhou demoradamente em redor, detendo-se nas paredes, nas prateleiras, na chaminé, como que para penetrar em tudo, para levar tudo consigo.





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