Madame Bovary - Cap. 15: VII Pág. 147 / 382

O boticário continuava:

- Quem te mandou cá vir? Estás sempre a importunar estes senhores!

Ainda por cima, à quarta-feira, quando a tua presença me é mais necessária. Tenho lá agora vinte pessoas para atender. Deixei tudo por tua causa. Vai, despacha-te! Corre! Espera lá por mim e toma conta dos frascos!

Quando Justin, depois de ajeitar a roupa, se foi embora, conversaram um pouco sobre desmaios. A Sr. Bovary nunca tivera nenhum.

- É extraordinário numa mulher! - disse Boulanger. - Há até pessoas bastante sujeitas a desmaiar. Já vi, por exemplo, num duelo, uma das testemunhas perder os sentidos só por causa do ruído de carregar as pistolas.

- A mim - disse o boticário -, ver o sangue dos outros não me causa impressão; mas só a ideia do meu sangue a correr seria o suficiente para me provocar desfalecimentos, se me pusesse a pensar muito nisso.

Entretanto, o Sr. Boulanger mandou embora o criado, dizendo que acalmasse o espírito, visto que já lhe fora feita a vontade.

- O que me proporcionou a vantagem de poder conhecê-la - acrestentou.

E fixava Emma enquanto dizia esta frase.

Depois colocou três francos em cima da mesa, despediu-se com indiderença e saiu.

Dali a pouco encontrava-se já do outro lado do rio (era esse o caminho para regressar a La Huchette); Emma avistou-o na pradaria, caminhando debaixo dos choupos, demorando o passo, de vez em quando, como quem reflecte.

«Que simpática que ela é!», ia ele pensando; «é mesmo simpática, aquela mulher do médico! Lindos dentes, olhos negros, pezinhos delicados e o aspecto distinto duma parisiense. Donde diabo terá ela vindo? Onde a terá

desencantado aquele grosseirão?»

Rodolphe Boulanger tinha trinta e quatro anos; possuía um temperamento agressivo e uma inteligência perspicaz, além de ter conhecido muitas mulheres, no que se tornara um especialista.





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